terça-feira, 4 de outubro de 2016




Orla Bardot


No meio do caminho tinha uma gaivota. Voava plácida, circundando os mastros dos barcos ancorados à baía por onde passou, certa vez, o furacão Bardot, deixando sua marca indelével eternizada na escultura de pedra, encrustada às margens úmidas da enseada.

Reza a lenda ter a atriz vivenciado ali um grande amor, paixão improvável entre musa e pescador, cujas redes bem-aventuradas em lugar de peixes, trouxera a sereia, saída das telas do cinema para as brancas areias de Iemanjá.

Armação de Búzios cresceu, quase engolida pela fúria imobiliária, pelo fantasma do declínio que corrói o tempo e engole a ilusão, como ensina o ciclo da vida em rotação, mas a Orla Bardot mantém a aura, um ar etéreo de eternidade, suave torpor impregnado no balanço dos barcos ancorados, na névoa do tempo chuvoso de setembro.

Sentar-se com a musa e sonhar com a febre de outros tempos, fechar os olhos, deixar-se estar...


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