quinta-feira, 19 de março de 2015

DIÁRIO DE VIAGEM


Um cisco no olho do Cristo

                (para Lala)

Há um ricto no riso,
um soco no gozo,
um cisco no olho
do Cristo que,
do alto, assiste
à língua do cão
sem dono lamber
a face do homem
sem nome
cuja carne inerte
reflete a tênue
luz da lua
minguante.

DIÁRIO DE VIAGEM


É só o vento

O vento fala
ao meu ouvido
em língua inaudível,
lufas de vento
de silêncio e cor.

Incorpórea, ouço
os versos malditos:
nenhum verbo
ou substantivo
traduz o amor.

Patética, repilo
o estratagema
de inferir grandeza
Onde só há vertigem,
languidez, torpor.

Solto a caneta
e uso a coragem
para enfrentar
a solidão, minha
fuligem interior.

Dela retiro
a argamassa
com que construo
um templo
de palavras
ao vento

Que afinal me falam
ao ouvido,
lufas de vento
de silêncio e cor.

quarta-feira, 11 de março de 2015

DIÁRIO DE VIAGEM


Carta de Brasíllia

Na Torre de TV, 
quem abre os braços sou eu,
para você,
e ainda que os eixos
de nossas curtas vidas
jamais se cruzem outra vez,
ainda assim valeu,
você e eu,
durar seria o céu,
insensatez.

              Amneres
 

              (do livro Verbo e Carne - Editora 7Letras, poemas, 100 páginas)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

VERBO E CARNE (novo livro de poemas)

VERBO E CARNE é meu novo livro de poemas, publicado pela Editora 7letras, com lançamentos em março e abril nas cidades do Rio de Janeiro, João Pessoa e Brasília.
A EDIÇÃO é limitada, mas você pode ADQUIRIR seu exemplar AGORA, pelos sites da EDITORA e também da ESTANTE VIRTUAL, nos links abaixo:


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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

DIÁRIO DE VIAGEM


Natal

Recolhe os cacos
Do teu coração
Partido e os expõe
Ao calor do sol
Dos trópicos,
Para dourar,
À beira-mar.

Junta-lhes então
Uma porção de sal
Colhida das águas
Que te lavam os olhos
E te salgam o corpo,
Banhado pelo
Azul Atlântico.

Assiste-os derreterem-se
E outra vez fundirem-se
Em cristal translúcido,
Forjado no milagre
Da luz de dezembro,
Exatamente à meia-noite
Da véspera do Advento.

E enfim verás,
Quando o galo cantar,
À primeira hora
Do dia vinte e cinco,
O teu peito arfar
Ante a esperança

Que quebra a casca
Do ovo e nasce,
Pois que se faz Carne
Para a ti igualar-se
E alçar-te ao gozo
Do Verbo divino.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

DIÁRIO DE VIAGEM

Nebulosa

O poema morreu
Junto com tudo
O que pensava
Saber sentir.

Passou anos
Tentando resgatá-lo
E a inocência,
Até então intacta.

Tentou rimar
Amor e dor,
Dizer outra vez
Do mesmo,
Repetir-se,
Repetir-se,
Repetir.

Um dia, acordou
Sem palavras,
Um mundo todo
Folha em branco
A se definir.

sábado, 22 de novembro de 2014

DIÁRIO DE VIAGEM



Corpotexto

O corpo do texto fala
e ao falar revela
o texto do corpo,
sopro efêmero do desejo,
verbo aceso transmutado
em fábula, mito, hieroglifo
- línguas do corpo e do texto
buscando-se ávidas,
saliva e palavra,
pele e fala, halo,
corpotexto.