sexta-feira, 13 de outubro de 2023



Semiótica


O dia nublado é belo.

Semissol furando as frestas

do telhado de nuvens

e o vento trazendo

a chuva de longe,

sussurrando semissons

cifrados, em sintonia

com as cores do céu;

as águas do lago;

as velas dos barcos

deslizando ao longe

a seguirem em paz,

no fluxo do tempo

em que os olhos

exaustos pousam

na paisagem à frente

e esquecem a dor,

o clima extremo,

a castigarem

o Centro-Oeste

e a alma imortal

de um ser vivente

denominado “eu”,

quando a si mesmo

se refere.


O vento ruge

afinal mais forte,

trazendo as velas

e a chuva para perto

da linha do horizonte;

hora de despedir-se

e seguir em frente,

pensa o “eu” profundo,

falando muito mais

de despedidas

(havidas e iminentes)

de amores seus

do que do momento

de puro deleite

em que contempla

as cores da tarde,

quando a luz

captura os sentidos

e a alma ascende,

seguindo o trajeto

dos olhos marejados,

no instante mesmo

em que acompanham

o voo de uma ave

até o alto, tão alto

a ponto de fundir-se

ao azul excelso.


E é quando a alma

volta enfim ao porto

do tempo presente,

no corpo seminal

da tarde em progresso.


            (Amneres, outubro, 2023)