quinta-feira, 19 de março de 2015

DIÁRIO DE VIAGEM


Um cisco no olho do Cristo

                (para Lala)

Há um ricto no riso,
um soco no gozo,
um cisco no olho
do Cristo que,
do alto, assiste
à língua do cão
sem dono lamber
a face do homem
sem nome
cuja carne inerte
reflete a tênue
luz da lua
minguante.

DIÁRIO DE VIAGEM


É só o vento

O vento fala
ao meu ouvido
em língua inaudível,
lufas de vento
de silêncio e cor.

Incorpórea, ouço
os versos malditos:
nenhum verbo
ou substantivo
traduz o amor.

Patética, repilo
o estratagema
de inferir grandeza
Onde só há vertigem,
languidez, torpor.

Solto a caneta
e uso a coragem
para enfrentar
a solidão, minha
fuligem interior.

Dela retiro
a argamassa
com que construo
um templo
de palavras
ao vento

Que afinal me falam
ao ouvido,
lufas de vento
de silêncio e cor.

quarta-feira, 11 de março de 2015

DIÁRIO DE VIAGEM


Carta de Brasíllia

Na Torre de TV, 
quem abre os braços sou eu,
para você,
e ainda que os eixos
de nossas curtas vidas
jamais se cruzem outra vez,
ainda assim valeu,
você e eu,
durar seria o céu,
insensatez.

              Amneres
 

              (do livro Verbo e Carne - Editora 7Letras, poemas, 100 páginas)