sábado, 6 de maio de 2017

DIÁRIO DE VIAGEM

O Grito - Edvard Munch

O Grito

Ontem, um homem
Acelerou um caminhão,
Deixando no meio
Da multidão um rastro
De sangue e membros,
Quebrados feito
Mamulengos.

Ontem, uma mulher
Jogou-se do décimo
Andar do apartamento,
Deixando sentados
Na sala, perplexos,
Mãe, pai, marido
E seus dois rebentos.

Ontem, a polícia
Cercou meninos
Num carro roubado
E cravou de balas
Seus dorsos franzinos.

Ontem, na Itália,
Um barco naufragou
A esperança
E o vasto oceano
Devolveu à praia
Um corpo de criança.

Ontem,
Fez um tempo
Escuro como breu,
Mas amanheceu,
Mas amanheceu,
Mas amanheceu.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Diário de Viagem

Meditação
sobre
Ser e Tempo

Medito,
Contemplo
Ser e estar
No mundo,
Compadeço-me
De mim
E do outro,
Vejo-o em mim,
E nele me vejo,
Semelhante,
Espelho,
Escopo,
Conceito
Universal
E obscuro,
Cujo sentido,
em Heidegger,
É a questão
Fundamental
Da Existência
Do ser
No tempo.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

DIÁRIO DE VIAGEM


Suspiro

Vou ao Beirute,
Digo em silêncio,
Ao mesmo tempo
Em que ouço
O canto dos pássaros,
Uns sons de latidos,
Sussurros, estalos,
Ruídos, ruídos,
E se a gente
Se põe a escutar,
Dá para ouvir a Terra
- Esse indelével Planeta -,
Lentamente, respirar.

            * Beirute, bar de Brasília, na 109 Sul

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

DIÁRIO DE VIAGEM


Quo vadis, Sampa

            (para Caetano Veloso)

"Alguma coisa acontece
No meu coração",
Caetano, meu poeta
Irmão.

Alguma coisa
Súbita e implacável,
Como o fulgor de um raio
Numa tarde de verão.

Alguma coisa cortante,
Lâmina perfurante
Tentando penetrar-me
A carne.

Espasmo de dor
Debaixo do seio esquerdo,
Chegando e metendo medo,
Doendo, fazendo alarde.

"Alguma coisa acontece
No meu coração",
Caetano, meu poeta
Irmão.
E eu peço clemência
Ao Pai e creio,
Creio em milagres.

No milagre do amor
E no milagre da arte,
Na força de uma imagem
Outrora urdida no peito
De um menino.

(Trazia a Bahia na alma
E no corpo, o fogo
Do desejo peregrino.
E via beleza em tudo,
"No avesso do avesso
Do avesso" do olho
Do destino).

Em Sampa, sem céu,
Sem mar, sem face,
Viu o fado cruel
Dos desvalidos
E a força dos
Sonhos de seus
Filhos erguendo
A cidade.

"Alguma coisa acontece
No meu coração",
Caetano, meu poeta
Irmão.
Também eu vejo
Beleza, vejo virtude,
Vejo fuligem
Nos elmos
Dessa engrenagem.

E peço emprestado
Os versos antigos
Que ora reescreves,
Ao som das guitarras
Da contemporaneidade:

São Paulo, "alguma coisa
Acontece no meu coração",
Algo em ti traduz-me,
Quando deito os olhos

Nos mais altos cumes
Das longínquas torres
De concreto armado
Do teu coração.

                Amneres - Diário de Viagem - www.poesiaemtemporeal-amneres

DIÁRIO DE VIAGEM


Quo vadis, Sampa

            (para Caetano Veloso)

"Alguma coisa acontece
No meu coração",
Caetano, meu poeta
Irmão.

Alguma coisa
Súbita e implacável,
Como o fulgor de um raio
Numa tarde de verão.

Alguma coisa cortante,
Lâmina perfurante
Tentando penetrar-me
A carne.

Espasmo de dor
Debaixo do seio esquerdo,
Chegando e metendo medo,
Doendo, fazendo alarde.

"Alguma coisa acontece
No meu coração",
Caetano, meu poeta
Irmão.
E eu peço clemência
Ao Pai e creio,
Creio em milagres.

No milagre do amor
E no milagre da arte,
Na força de uma imagem
Outrora urdida no peito
De um menino.

(Trazia a Bahia na alma
E no corpo, o fogo
Do desejo peregrino.
E via beleza em tudo,
"No avesso do avesso
Do avesso" do olho
Do destino).

Em Sampa, sem céu,
Sem mar, sem face,
Viu o fado cruel
Dos desvalidos
E a força dos
Sonhos de seus
Filhos erguendo
A cidade.

"Alguma coisa acontece
No meu coração",
Caetano, meu poeta
Irmão.
Também eu vejo
Beleza, vejo virtude,
Vejo fuligem
Nos elmos
Dessa engrenagem.

E peço emprestado
Os versos antigos
Que ora reescreves
Ao som das guitarras
Da contemporaneidade:

São Paulo, "alguma coisa
Acontece no meu coração",
E a vida enfim arde,
as torres
De concreto armado
Do teu coração.


DIÁRIO DE VIAGEM


Quo vadis, Sampa

            (para Caetano Veloso)

"Alguma coisa acontece
No meu coração",
Caetano, meu poeta
Irmão.

Alguma coisa
Súbita e implacável,
Como o fulgor de um raio
Numa tarde de verão.

Alguma coisa cortante,
Lâmina perfurante
Tentando penetrar-me
A carne.

Espasmo de dor
Debaixo do seio esquerdo,
Chegando e metendo medo,
Doendo, fazendo alarde.

"Alguma coisa acontece
No meu coração",
Caetano, meu poeta
Irmão.
E eu peço clemência
Ao Pai e creio,
Creio em milagres.

No milagre do amor
E no milagre da arte,
Na força de uma imagem
Outrora urdida no peito
De um menino.

(Trazia a Bahia na alma
E no corpo, o fogo
Do desejo peregrino.
E via beleza em tudo,
"No avesso do avesso
Do avesso" do olho
Do destino).

Em Sampa, sem céu,
Sem mar, sem face,
Viu o fado cruel
Dos desvalidos
E a força dos
Sonhos de seus
Filhos erguendo
A cidade.

"Alguma coisa acontece
No meu coração",
Caetano, meu poeta
Irmão.
Também eu vejo
Beleza, vejo virtude,
Vejo fuligem
Nos elmos
Dessa engrenagem.

E peço emprestado
Os versos antigos
Que ora reescreves
Ao som das guitarras
Da contemporaneidade:

São Paulo, "alguma coisa
Acontece no meu coração",
Quando olho as torres
De concreto armado
Do teu coração.

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domingo, 15 de janeiro de 2017

DIÁRIO DE VIAGEM


Morte e
Ressurreição

Dentro da noite
Há mistério,
Insones palpitações
No corpo etéreo
Da existência,
Quando fala a alma
Das palavras:
Morte, livro, unção.

Ela acordou poemas
Ocultos nos recônditos
Do seu coração.

Amar é de repente:
Raio, relâmpago, trovão,
Pingos de encanto
E pronto.

Infarto do miocárdio:
Dor aguda no peito
E o risco de partir
sem aviso prévio.

A lua cheia nasceu
Dentro do mar,
Tanta beleza tem voz:
Deus existe
E ponto.

Despedir-se da mãe
É tão triste, tão triste.
Que durma em paz,
Pede em silêncio
Toda vez que parte.

E enfim o dia amanhece:
Levanta-te e anda,
Amneres.