Nós que amamos Beto
Era um menino lindo, como de resto éramos todos nós,
na Brasília dos Anos 80, no século, e mesmo no milênio, passados. Beto para
todos, não só para os íntimos.
Ele se distinguia dos outros por aquele olhar sempre
para o alto, sempre para o céu, o imenso céu de Brasília, visto do alto do Planalto
Central, tão perto, tão íntimo, sem uma nuvem, livre de arranha-céus.
No seu velório, entre tantos rostos amigos, voltei no
tempo, guiada por uma estranha alegria de, por algum tempo, com Beto ter
convivido. Nós, os seus amigos, reconhecemo-nos naquele encontro, menos triste
e mais melancólico, vindos de um tempo em que os sonhos fluíam, a nos unir como
a uma tribo inocente a quem lhe deu o destino um mundo novo, pronto a ser
construído.
Confesso que me preparei especialmente para a
despedida desse amigo que, mesmo que a vida e o tempo nos tenham afastado,
permaneceu guardado em meu peito como um tesouro. Como são, enfim, tesouros os
tempos felizes que se guarda a sete chaves, qual um escudo, uma proteção às
intempéries dos tempos vindouros.
Tomei um banho doce e morno, pintei o rosto, vesti meu
melhor vestido e fui ao velório para despedir-me com dignidade de um velho e
bom amigo.
Serão caminhos luminosos, Beto, eterno menino. Como
aqui, nas terras altas de Brasília, foi o teu. Vai com Deus.
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