segunda-feira, 27 de abril de 2015

DIÁRIO DE VIAGEM



Nós que amamos Beto

Era um menino lindo, como de resto éramos todos nós, na Brasília dos Anos 80, no século, e mesmo no milênio, passados. Beto para todos, não só para os íntimos.

Ele se distinguia dos outros por aquele olhar sempre para o alto, sempre para o céu, o imenso céu de Brasília, visto do alto do Planalto Central, tão perto, tão íntimo, sem uma nuvem, livre de arranha-céus.

No seu velório, entre tantos rostos amigos, voltei no tempo, guiada por uma estranha alegria de, por algum tempo, com Beto ter convivido. Nós, os seus amigos, reconhecemo-nos naquele encontro, menos triste e mais melancólico, vindos de um tempo em que os sonhos fluíam, a nos unir como a uma tribo inocente a quem lhe deu o destino um mundo novo, pronto a ser construído.

Confesso que me preparei especialmente para a despedida desse amigo que, mesmo que a vida e o tempo nos tenham afastado, permaneceu guardado em meu peito como um tesouro. Como são, enfim, tesouros os tempos felizes que se guarda a sete chaves, qual um escudo, uma proteção às intempéries dos tempos vindouros.

Tomei um banho doce e morno, pintei o rosto, vesti meu melhor vestido e fui ao velório para despedir-me com dignidade de um velho e bom amigo.


Serão caminhos luminosos, Beto, eterno menino. Como aqui, nas terras altas de Brasília, foi o teu. Vai com Deus.

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