Ensaio poético
sobre
as unhas
de
Nicolas Behr
Nicolas, hoje
amanheci
roendo as unhas.
Eu, que nunca
as tive.
“Que gosto
tem o
gosto da
angústia”?
A torre de TV
é um dedo
em riste
apontando
o céu.
Quem roeu
as unhas
das mãos postas
da Catedral
de Brasília?
“Restauramos
e recuperamos
unhas
não consertamos
poemas”.
Os dedos
das torres
gêmeas
do Congresso
Nacional
já nasceram
podados.
Suas
unhas-garras
crescem
invertidas,
para dentro.
Quando
perfurarem
o núcleo
do solo vermelho
do cerrado,
haverá uma
grande explosão.
“Por que sempre
esse arrancar
pedaços?”.
Por que dói
até sangrar?
Deixa sangrar,
Nicolas,
unhas e sonhos
são
irremediáveis.
Quanto mais
roídos, podados,
amordaçados,
tanto mais
resistem
e outra vez
rasgam a couraça
e crescem.
“A vida medíocre
escreve
os melhores
poemas”.
Será?
Hoje amanheci
triste, Nicolas.
Joga outra vez
teus dedos
esfolados
na cara
do poema
de fraque.
“Fecha a mão
em punho
como quem quer
esmurrar o
vazio”.
Um dia,
a lava
escaldante
do poema
estenderá
sua língua
sobre os
palácios da
esplanada.
Brasília arderá
em chamas
e de seu
solo então
jorrarão leite
e mel.
“Todas as
revoluções
fracassaram
eu e meu
dramazinho
pequeno-burguês
roê-lo
para que fique
menor ainda”.
Nicolas,
posso roer
tuas unhas?
(Os versos em
aspas foram transcritos de poemas do livro Eu Tenho Unhas, de Nicolas Behr, com
ilustração de Luda Lima, Editora Roedora, 2015)
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