Chico, a lua e a Ásia
Chorei, amigo, da primeira à última frase soprada por tua voz ao meu ouvido. Dita como dizes, a vida é pura arte. Dançaste no palco como um pássaro o faz no espaço livre. Ficaste leve, quase incorpóreo, tomada que estava tua alma pela perfeita simbiose entre ator e homem. A lua vem da Ásia, mas a estrela brilha aqui na Terra Brasilis, na performance irretocável de um grande ator. Salve, Chico Diaz.
* Texto escrito em homenagem ao ator brasileiro Chico Diaz, no monólogo A Lua vem da Ásia, baseado na obra de Campos de Carvalho.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
terça-feira, 29 de março de 2011
DIÁRIO DE VIAGEM
Cheers
Aaaaaaahhhhh...
O silêncio
parece gritar
ao meu encalço.
Algo quebrou
dentro de mim,
ainda posso ouvir
seus estilhaços.
O copo quebrou,
escorregou
de minhas mãos
por entre os dedos
e se partiu
em mil pedaços.
Guardei silêncio,
juntando
os cacos de fora
como se fossem
os de dentro.
Quando acordei,
havia sol
e ouvi o som
da voz dos pássaros.
Embriagada
pela luz
enfim, brindei:
- Ao novo tempo
E ao que se foi
e que me fez,
Pois dessa vida
só se leva
o aprendizado.
sábado, 19 de março de 2011
DIÁRIO DE VIAGEM
Mergulho
Quando a sandália havaiana quebrou e levou junto com ela o amuleto, pensei: lá se foi o último elo, um elefantinho da sorte grudado à alça de vestir os dedos. Então, descalça, atravessei o asfalto e pisei a areia branca, ainda morna, da manhã de março. - Viver é isso: eterno fim, eterno recomeço, sussurrei ao vento, deixando o sal das lágrimas misturar-se ao sal daquelas águas. - Bendita seja a luz a colorir tanto esplendor, agradeci ao Criador. E mergulhei naquele mar, o corpo entregue às mansas ondas, a alma sonza, a flutuar.
Quando a sandália havaiana quebrou e levou junto com ela o amuleto, pensei: lá se foi o último elo, um elefantinho da sorte grudado à alça de vestir os dedos. Então, descalça, atravessei o asfalto e pisei a areia branca, ainda morna, da manhã de março. - Viver é isso: eterno fim, eterno recomeço, sussurrei ao vento, deixando o sal das lágrimas misturar-se ao sal daquelas águas. - Bendita seja a luz a colorir tanto esplendor, agradeci ao Criador. E mergulhei naquele mar, o corpo entregue às mansas ondas, a alma sonza, a flutuar.
quinta-feira, 17 de março de 2011
DIÁRIO DE VIAGEM
Marcapasso
Papai pôs um marcapasso e seu coração arfou, zumbiu, bombou, voltou a pulsar, cheio da pura energia da vida. - Doutor, põe um marcapasso no meu coraçãozinho, pedi, em silêncio, durante a vigília. Quando acordei, a luz do sol iluminava o leito e o quarto em derredor. Então saímos - eu e meu pai - alegres, invictos, em paz.
Papai pôs um marcapasso e seu coração arfou, zumbiu, bombou, voltou a pulsar, cheio da pura energia da vida. - Doutor, põe um marcapasso no meu coraçãozinho, pedi, em silêncio, durante a vigília. Quando acordei, a luz do sol iluminava o leito e o quarto em derredor. Então saímos - eu e meu pai - alegres, invictos, em paz.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
DIÁRIO DE VIAGEM
Engenho e mar
Sou viajante. Gosto de viajar pela paisagem plácida e translúcida da Praia do Cabo Branco, à beira-mar do manso Atlântico. Nessa paisagem vivi, até aos 18 anos, uma infância e adolescência absolutamente felizes, regada a queimadas, picolé de frutas, assustados(*) e pescarias ao luar. O verão – que nesses trópicos dura de setembro a fevereiro – era o senhor absoluto de nossas existências. Em dezembro, então, com a chegada do veraneio, tudo era luz e alegria.
Os veranistas vinham de várias partes do Nordeste e do interior da Paraíba, em sua maioria. E nossa casa – com sua grande quadra de jogos, iluminada por holofotes altíssimos - passava a ser a parada obrigatória de todos os amigos de nossa numerosa família de oito irmãos. Jogávamos vôlei, futebol, queimada e organizávamos concorridíssimos campeonatos de pingue-pongue e de gamão – jogo de origem britânica, cujo gosto herdáramos dos nossos avós maternos, diretamente do Engenho Tibiri, o primeiro engenho de açúcar da Paraíba, que já fora o Engenho del Rei, à época de Filipe II, rei de Espanha e Portugal.
Mamãe me disse que originalmente, quando foi comprado por meu bisavô, o engenho tinha três mil hectares e se estendia da atual cidade de Santa Rita a João Pessoa, a capital, que foi a terceira cidade do Brasil, fundada ainda no primeiro século da colonização, depois de Salvador e do Rio de Janeiro.
Segundo Horácio de Almeida, em sua História da Paraíba, “de todas as capitais brasileiras, sobretudo das que foram cabeças de capitania, a da Paraíba foi a terceira que nasceu cidade. A primeira foi a de Salvador, na Bahia, fundada por Tomé de Sousa, em 1549, próximo à Vila Velha, para sede do governo geral. A segunda, a do Rio de Janeiro, por ter sido conquistada pelo governo, à custa de sua fazenda, em 1565. A terceira, a de Nossa Senhora das Neves, na Paraíba, fundada em 1585. Todas as outras nasceram vilas e nesta categoria se conservaram durante todo o período colonial”.
Até hoje, lembro-me do cheiro acre do bagaço da cana saído dos imensos tonéis onde eu e meus primos adorávamos brincar de esconde-esconde. Era uma aventura entrarmos escondidos na velha construção e explorar suas cavernas úmidas. Mas à medida que saíamos da infância à adolescência, mais éramos atraídos pelo verão com suas praias azuis e pela visão de nossos corpos bronzeados quase prontos para o primeiro amor.
O primeiro amor foi meu primeiro rito de passagem. Hoje, mais de 30 anos depois, ouço de minha mãe, com toda a iluminação e sabedoria de seu grande espírito octogenário, que o coração não envelhece e nele permanecem os sonhos, em ciclos de nascimento e morte, a cada nova florada, a cada nova estação. E é exatamente assim que me sinto: hoje como antes, uma adolescente apaixonada pela vida e ainda pronta a conquistar o mundo, como um dia o fizeram os navegantes portugueses ao singrarem os mares em busca do novo mundo. Sou viajante...
Sou viajante. Gosto de viajar pela paisagem plácida e translúcida da Praia do Cabo Branco, à beira-mar do manso Atlântico. Nessa paisagem vivi, até aos 18 anos, uma infância e adolescência absolutamente felizes, regada a queimadas, picolé de frutas, assustados(*) e pescarias ao luar. O verão – que nesses trópicos dura de setembro a fevereiro – era o senhor absoluto de nossas existências. Em dezembro, então, com a chegada do veraneio, tudo era luz e alegria.
Os veranistas vinham de várias partes do Nordeste e do interior da Paraíba, em sua maioria. E nossa casa – com sua grande quadra de jogos, iluminada por holofotes altíssimos - passava a ser a parada obrigatória de todos os amigos de nossa numerosa família de oito irmãos. Jogávamos vôlei, futebol, queimada e organizávamos concorridíssimos campeonatos de pingue-pongue e de gamão – jogo de origem britânica, cujo gosto herdáramos dos nossos avós maternos, diretamente do Engenho Tibiri, o primeiro engenho de açúcar da Paraíba, que já fora o Engenho del Rei, à época de Filipe II, rei de Espanha e Portugal.
Mamãe me disse que originalmente, quando foi comprado por meu bisavô, o engenho tinha três mil hectares e se estendia da atual cidade de Santa Rita a João Pessoa, a capital, que foi a terceira cidade do Brasil, fundada ainda no primeiro século da colonização, depois de Salvador e do Rio de Janeiro.
Segundo Horácio de Almeida, em sua História da Paraíba, “de todas as capitais brasileiras, sobretudo das que foram cabeças de capitania, a da Paraíba foi a terceira que nasceu cidade. A primeira foi a de Salvador, na Bahia, fundada por Tomé de Sousa, em 1549, próximo à Vila Velha, para sede do governo geral. A segunda, a do Rio de Janeiro, por ter sido conquistada pelo governo, à custa de sua fazenda, em 1565. A terceira, a de Nossa Senhora das Neves, na Paraíba, fundada em 1585. Todas as outras nasceram vilas e nesta categoria se conservaram durante todo o período colonial”.
Até hoje, lembro-me do cheiro acre do bagaço da cana saído dos imensos tonéis onde eu e meus primos adorávamos brincar de esconde-esconde. Era uma aventura entrarmos escondidos na velha construção e explorar suas cavernas úmidas. Mas à medida que saíamos da infância à adolescência, mais éramos atraídos pelo verão com suas praias azuis e pela visão de nossos corpos bronzeados quase prontos para o primeiro amor.
O primeiro amor foi meu primeiro rito de passagem. Hoje, mais de 30 anos depois, ouço de minha mãe, com toda a iluminação e sabedoria de seu grande espírito octogenário, que o coração não envelhece e nele permanecem os sonhos, em ciclos de nascimento e morte, a cada nova florada, a cada nova estação. E é exatamente assim que me sinto: hoje como antes, uma adolescente apaixonada pela vida e ainda pronta a conquistar o mundo, como um dia o fizeram os navegantes portugueses ao singrarem os mares em busca do novo mundo. Sou viajante...
sábado, 5 de fevereiro de 2011
DIÁRIO DE VIAGEM
Aeroporto
Sou viajante, penso ao entrar no táxi, de malas prontas, coisa recorrente nos últimos meses. Na saída, descubro que perdi meus óculos e dou um suspiro. Chega, chega de perdas, digo alto e faço um gesto de apelo ao Pai eterno. Depois, peço desculpas. Quanta arrogância, digo para mim mesma e a pena treme com o balanço do carro em movimento.
Aprendi que toda dor cessa. Não há mal que nunca acabe, nem bem que sempre dure, repito o dito popular, refletindo sobre quantas lições se pode tirar do censo comum. O fluxo do trânsito corta o fluxo do pensamento. Levanto o olhar e vejo o Lago Paranoá brilhando sob a Ponte do Bragueto. São nove horas da manhã e o Eixão resplandece verde e rosa.
Verde e Rosa são as cores da Mangueira, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro. Mas verde e rosa é também o Eixão Norte, sob o esplêndido céu azul de Brasília, onde o tempo é frio e seco e os ipês cor-de-rosa misturam-se ao verde musgo dos mangueirais. Que tempo gostoso, penso e esboço um ar de riso. Só mesmo um candango para gostar de uma estação onde a umidade do ar é menor que 20%.
Sigo pelo Eixão, agora o Sul, a caminho do Aeroporto. Daqui a algumas horas, estarei outra vez à beira-mar da Praia do Cabo Branco. Faz exatamente um ano que perdi e reencontrei o amor. Há exatamente um ano, estava do meio do furacão. Hoje não. Parece que a chuva cessou, parece que o peito secou como a paisagem desse Cerrado em movimento.
O táxi passa debaixo de um avião. Acompanho seu pouso até quase o chão e já não sinto a faca enfiada bem no centro do coração. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe, inverto o ditado e o carro estaciona bem em frente ao saguão de embarque do Aeroporto JK. É hora de partir, é tempo de recomeçar.
“Besame, besame mucho, como se fuera esta noche la ultima vez...”, cantarolo o tango do argentino Carlos Gardel, mas na versão mais bela e mais doce do baiano João Gilberto, imortalizada no CD Amoroso. Gosto desse movimento, desse ir e vir, desse alvoroço dos aeroportos. Na fila de embarque, troco um dedo de prosa com um velho amigo, depois sigo apressada e só relaxo quando me sento à cadeira nº 5 da aeronave, bem ao corredor. Logo em seguida, no entanto, troco de assento com um senhor, para deixar unida uma família composto por pai, mãe e filho.
Meu novo lugar é a cadeira à janela, na fileira nº 4. Olho pela vidraça e acompanho o movimento do pessoal que trabalha em terra, como dizem os comandantes ao prestarem informações durante os vôos. Daqui a pouco estarei em pleno ar, a alma em transe, a caminho de algum lugar. Estou em trânsito e de alguma forma, nesse momento da vida, este parece ser o meu lugar. Sou viajante...
Sou viajante, penso ao entrar no táxi, de malas prontas, coisa recorrente nos últimos meses. Na saída, descubro que perdi meus óculos e dou um suspiro. Chega, chega de perdas, digo alto e faço um gesto de apelo ao Pai eterno. Depois, peço desculpas. Quanta arrogância, digo para mim mesma e a pena treme com o balanço do carro em movimento.
Aprendi que toda dor cessa. Não há mal que nunca acabe, nem bem que sempre dure, repito o dito popular, refletindo sobre quantas lições se pode tirar do censo comum. O fluxo do trânsito corta o fluxo do pensamento. Levanto o olhar e vejo o Lago Paranoá brilhando sob a Ponte do Bragueto. São nove horas da manhã e o Eixão resplandece verde e rosa.
Verde e Rosa são as cores da Mangueira, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro. Mas verde e rosa é também o Eixão Norte, sob o esplêndido céu azul de Brasília, onde o tempo é frio e seco e os ipês cor-de-rosa misturam-se ao verde musgo dos mangueirais. Que tempo gostoso, penso e esboço um ar de riso. Só mesmo um candango para gostar de uma estação onde a umidade do ar é menor que 20%.
Sigo pelo Eixão, agora o Sul, a caminho do Aeroporto. Daqui a algumas horas, estarei outra vez à beira-mar da Praia do Cabo Branco. Faz exatamente um ano que perdi e reencontrei o amor. Há exatamente um ano, estava do meio do furacão. Hoje não. Parece que a chuva cessou, parece que o peito secou como a paisagem desse Cerrado em movimento.
O táxi passa debaixo de um avião. Acompanho seu pouso até quase o chão e já não sinto a faca enfiada bem no centro do coração. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe, inverto o ditado e o carro estaciona bem em frente ao saguão de embarque do Aeroporto JK. É hora de partir, é tempo de recomeçar.
“Besame, besame mucho, como se fuera esta noche la ultima vez...”, cantarolo o tango do argentino Carlos Gardel, mas na versão mais bela e mais doce do baiano João Gilberto, imortalizada no CD Amoroso. Gosto desse movimento, desse ir e vir, desse alvoroço dos aeroportos. Na fila de embarque, troco um dedo de prosa com um velho amigo, depois sigo apressada e só relaxo quando me sento à cadeira nº 5 da aeronave, bem ao corredor. Logo em seguida, no entanto, troco de assento com um senhor, para deixar unida uma família composto por pai, mãe e filho.
Meu novo lugar é a cadeira à janela, na fileira nº 4. Olho pela vidraça e acompanho o movimento do pessoal que trabalha em terra, como dizem os comandantes ao prestarem informações durante os vôos. Daqui a pouco estarei em pleno ar, a alma em transe, a caminho de algum lugar. Estou em trânsito e de alguma forma, nesse momento da vida, este parece ser o meu lugar. Sou viajante...
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
DIÁRIO DE VIAGEM
Efígie
O poema é o Jadim, por isso lhe ofereço flores de silêncio com seu doce hálito de jasmim. Salve o poeta Reynaldo Jardim - hão de cantar-lhe em coro os querubins.
O poema é o Jadim, por isso lhe ofereço flores de silêncio com seu doce hálito de jasmim. Salve o poeta Reynaldo Jardim - hão de cantar-lhe em coro os querubins.
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