Semiótica
O dia nublado é belo.
Semissol furando as frestas
do telhado de nuvens
e o vento trazendo
a chuva de longe,
sussurrando semissons
cifrados, em sintonia
com as cores do céu;
as águas do lago;
as velas dos barcos
deslizando ao longe
a seguirem em paz,
no fluxo do tempo
em que os olhos
exaustos pousam
na paisagem à frente
e esquecem a dor,
o clima extremo,
a castigarem
o Centro-Oeste
e a alma imortal
de um ser vivente
denominado “eu”,
quando a si mesmo
se refere.
O vento ruge
afinal mais forte,
trazendo as velas
e a chuva para perto
da linha do horizonte;
hora de despedir-se
e seguir em frente,
pensa o “eu” profundo,
falando muito mais
de despedidas
(havidas e iminentes)
de amores seus
do que do momento
de puro deleite
em que contempla
as cores da tarde,
quando a luz
captura os sentidos
e a alma ascende,
seguindo o trajeto
dos olhos marejados,
no instante mesmo
em que acompanham
o voo de uma ave
até o alto, tão alto
a ponto de fundir-se
ao azul excelso.
E é quando a alma
volta enfim ao porto
do tempo presente,
no corpo seminal
da tarde em progresso.
(Amneres, outubro, 2023)