Florescer e queimar
Saio do prédio pela Chapelaria. Subo a rampa do Congresso e contorno o largo gramado da Esplanada dos Ministérios. Contempo a paisagem pela janela do táxi. Faz uma tarde linda. Fria e seca nesse mês de julho. A seca chegou com toda sua dureza e exuberância. O gramado castigado pelo frio e pelo sol já prenuncia a hora das queimadas, penso e me despeço dessas terras altas, em direção ao mar.
Estou de férias. Vinte e cinco longos e esplendorosos dias da pura luz do verão dos trópicos prometem secar de vez as últimas águas em minha visão. Levanto os olhos do caderno em que escrevo e me vejo frente a frente com a escultura dos Dois Candangos, na praça de concreto bem em frente ao Palácio do Planalto.
Depois, pela L-4, sigo em direção ao JK. No caminho, quase em frente ao Balão do Aeroporto, deparo-me com o primeiro pedaço de terra queimado pelo fogo. É o primeiro foco que vejo de uma série de incêndios que costumam castigar o Cerrado, nessa estação.
Mas, paradoxalmente, é também a época das floradas, quando Bouganvilles, flamboyands, ipês e toda sorte de flor exótica colorem o corpo do Cerrado. Como a nos dizer quão bela é a vida, penso. Mesmo nas terras áridas do Planalto, mesmo no solo roto do meu coração.
Dou uma pausa nos pensamentos para assistir ao avião levantar vôo. Estamos na cabeceira da pista, só aguardando as instruções da Torre de Comando. Um minuto e estamos em pleno ar. Pela janela, vejo a Ponte Velha e a Ponte JK e entre uma e outra o corpo prateado do Lago Paranoá.
Depois, toda a cidade vai ficando mais e mais distante. O coração do homem, assim como o corpo dessa aeronave, está predestinado ao vôo. E mesmo quando acontece de haver um pouso forçado, nosso destino está inscrito no DNA: reparar os danos e outra vez voar.
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