O mar de minha aldeia
Com os olhos na lua cheia bem em frente à varanda, penso na alegria de Sarayu, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, descrita no livro A Cabana, de William P. Young. Li a história de um fôlego, de um dia para o outro, nas noites e nos intervalos do dia em que papai e mamãe cochilavam.
Na idade em que eles se encontram, um sono leve e constante os acompanha durante todo o dia, como os recém nascidos, penso e me enterneço. Poder niná-los, estar com eles, voltar para casa sempre que o calo apertar, isso é um privilégio para poucos. E eu sou uma entre esses felizardos.
Choveu torrencialmente, nessa semana em João Pessoa. A água do mar muda de cor, fica marrom, nesse tempo enxarcado e quando abre uma réstia de sol, adoro vê-lo eriçado, como se sentisse frio com o vento agitado assanhando-lhe as ondas.
O mar da Praia do Cabo Branco, na Capital da Paraíba, não é qualquer mar, é o meu mar, meu pedaço particular de paraíso. Como o rio da aldeia do poeta Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. A gente emigra de um lugar e carrega para sempre dentro da gente essa paisagem particular.
Depois de 32 anos de Brasília, ainda hoje o Cabo Branco em mim habita, escrevo, de volta à cidade para um pequeno pouso. Daqui a três dias, vou outra vez levantar vôo, comemoro, alegre, de dentro da rede de balanço onde repouso e assisto à lua cheia do planalto o meu peito e o infinito iluminar.
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