quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Diário de Viagem


Sombras


Um cão sem dono

E o dono do cão

Caminham,

Sem rumo definido,

Pela rua sem nome

Da cidade, indiferente

À dor e ao riso. 


Um cão sem dono

E o dono do cão,

Ao acaso, escolhidos,

Um ao outro, abraçados,

Encharcados,

No corpo molhado

De uma noite 

De granizo.


Maltrapilhos, maltratados,

Cão e homem,

Homem e cão, 

Cada qual em seu rincão,

Condenados à penúria,

Ao relento,  na justa

Medida do chão.


Um cão sem dono

E o dono do cão

Caminhando

Pelos becos e desvãos.

Seu destino está escrito:

Os jazigos temporários

Dos proscritos.


Natimortos, esquecidos,

Viverão as suas vidas

Como os ratos,

Filhos do anonimato,

Sem história,

Sem registro,

Sem perdão.

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