Sombras
Um cão sem dono
E o dono do cão
Caminham,
Sem rumo definido,
Pela rua sem nome
Da cidade, indiferente
À dor e ao riso.
Um cão sem dono
E o dono do cão,
Ao acaso, escolhidos,
Um ao outro, abraçados,
Encharcados,
No corpo molhado
De uma noite
De granizo.
Maltrapilhos, maltratados,
Cão e homem,
Homem e cão,
Cada qual em seu rincão,
Condenados à penúria,
Ao relento, na justa
Medida do chão.
Um cão sem dono
E o dono do cão
Caminhando
Pelos becos e desvãos.
Seu destino está escrito:
Os jazigos temporários
Dos proscritos.
Natimortos, esquecidos,
Viverão as suas vidas
Como os ratos,
Filhos do anonimato,
Sem história,
Sem registro,
Sem perdão.
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