quarta-feira, 4 de julho de 2012
DIÁRIO DE VIAGEM
Ouvir música
E ver a lua nascer
A lua verde
Nasce na
Sacada amarela
Da janela azul,
Enquanto canta
Caetano Veloso
Eleanor Rigby
E o mundo todo
É um arcoíris.
A lua amarela
Nasce por trás
Da folhagem
Verde ...Ah,
Look at all
The lonely
People, ouve
O ouvido em
Puro êxtase.
Where do
They all
Come from,
Pergunto à
Lívida lua,
E num click
Ouço Paul
McCartney
Sing Eleanor
Rigby, com
Seu canto
Triste. All
The lonely
People, where
Do they all
Belong.
Corro à janela
E vejo a lua,
Branca e bela,
Clarear a noite
Do meu coração.
Volto, então,
Num click
A ouvir a
Voz do cantor
Baiano ao violão,
Enquanto
Teclo à tela
Branca esses
Leves versos
Livres.
Eleanor Rigby...
Lives in a dream…
Just like you,
Just like me.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
DIÁRIO DE VIAGEM
Não texto
Por trás desse silêncio,
só tem eu,
mais do mesmo de mim,
sem disfarces
ou máscaras a cair.
Somente eu,
certa angústia
e a incansável busca
pela transcendência.
Somente eu
e a fé a iluminar-me
os passos,
mesmo se há breu
e se a dor me fere a carne.
Meu grande amor, de verdade,
por trás desse silêncio,
só tem eu.
terça-feira, 12 de junho de 2012
DIÁRIO DE VIAGEM
Sobre sapos e príncipes
Se seu príncipe
transformou-se
em sapo, releve,
afinal, o que há
de tão mal em
ser um batráquio?
Se você reparar
bem, até que
ele é um bicho
simpático, cantante,
saltitante, alegre.
Decerto que é
feio, afinal, é
um sapo e já
diz o ditado,
quem ama o feio,
bonito lhe parece.
Por isso, aceite
com gratidão
o amor que
você sente,
incondicionalmente,
ainda que só
você o sinta.
Ttransforme seu
ogro outra vez
em príncipe, só
para seu deleite.
E para salvá-lo
do triste destino
de ser só um
sapo perdido
no lodo de seu
próprio charco,
na escuridão.
sábado, 12 de maio de 2012
Diário de Viagem
Se, por hora, não tens norte
Se, por hora, não tens mar,
Mergulha os olhos na imensidão
Do Paranoá e agradece.
Se, por hora, não tens luz,
Vê e te embebes da luz
Do sol, quando amanhece.
E assiste ao róseo rastro
Vermelho do arrebol
E à clara lua a iluminar-te,
Quando anoitece. Se por hora
Não tens fé, entrega a Deus
Tua não prece, pois certamente
Ele ouvirá. E há de guiar-te,
Como essas velas brancas, o vento,
E o pensamento, a navegar.
Se, por hora, não tens mar,
Mergulha os olhos na imensidão
Do Paranoá e agradece.
Se, por hora, não tens luz,
Vê e te embebes da luz
Do sol, quando amanhece.
E assiste ao róseo rastro
Vermelho do arrebol
E à clara lua a iluminar-te,
Quando anoitece. Se por hora
Não tens fé, entrega a Deus
Tua não prece, pois certamente
Ele ouvirá. E há de guiar-te,
Como essas velas brancas, o vento,
E o pensamento, a navegar.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Diário de Viagem
Sobre
a natureza
do amor
O amor
exige
extrema
coragem
e provoca,
enfim,
um extremo
medo,
pois que é
desnudar-se
plenamente
frente ao outro,
mostrar-se
de corpo e alma,
desprender-se
da própria vontade,
quase a abrir mão
de uma identidade,
quase a perder-se
no que quer o outro,
no que sonha o outro,
conhecer-se,
enfim,
a partir do outro,
da outra metade,
é ver-se ao espelho,
é reencontrar-se
ao reencontrá-lo,
é amar de novo.
sábado, 31 de março de 2012
Sobre o novo Velho Mundo
III
Chegamos à estação de King’s Cross, após cerca de duas horas de viagem no Eurostar – o trem de alta velocidade, construído sob o mar do Canal da Mancha, ligando Paris a Londres. Há 27 anos, quando morei na capital inglesa, essa fantástica obra de engenharia estava sendo projetada e fazia-se a travessia de ferry boat.
Lembro-me da primeira vez em que fiz esse percurso. O mar do Canal da Mancha estava especialmente agitado e o barco batia tanto que minha amiga Silvia Helena, com quem eu viajava, teve sérios problemas de enjoo. E isso aconteceu com muitos dos passageiros que faziam a travessia com a gente.
Eu não. Acostumada a fazer longos passeios, a bordo das frágeis jangadas dos pescadores da Praia do Cabo Branco, em João Pessoa -, sempre tive uma tolerância impressionante ao balanço do mar.
Mesmo ali, no Canal da Mancha, com o mar jogando furiosamente a embarcação, adorei sentir o cheiro acre-doce da maresia, o vento frio batendo em minha face e o gosto salgado das espumas tocando meus lábios, quando uma onda mais afoita espirrava sobre o casco. Mas isso foi há muito tempo.
Naquela tarde fria de fevereiro, desembarcamos - eu e minha prima, Maria Antonieta - na estação central de Londres pelo túnel de 51 quilômetros construído abaixo do leito do mar. Eu estava ansiosa para rever Silvia, depois de tanto tempo e reconheci-a imediatamente, em meio à multidão, vestida num casaco vermelho.
Ficamos emocionadas com o reencontro. Após 27 anos, éramos a um só tempo outras e as mesmas. Mulheres maduras a essa altura da vida, abençoadas com a graça da maternidade, marcadas por tantas dores e amores, ao longo de mais de duas décadas, permanecia em nós a mesma empatia, a compreensão mútua, o amor fraterno como só se encontra no solo fértil das verdadeiras amizades.
Saímos da estação diretamente para o casarão de três andares, onde duas décadas atrás, moramos num pequeno estúdio, alugado por Mr. Alexander, nosso Senhorio, um inglês absolutamente encantador que nos conquistou de cara pela delicadeza e cuidados com nosso bem-estar e segurança.
Mr. Alexander era casado com Janeth, uma senhora escocesa que algumas vezes nos convidava a tomar o chá das cinco, em sua agradabilíssima companhia. Só que o chá das cinco de Janeth era regado ao mais puro uísque escocês e a boa conversa com o casal de senhorios costumava estender-se até a noite, depois de alguns drinques e muitas risadas.
E havia Ron, o charmoso filho do queridíssimo casal que, de cara, conquistou o coração de Silvia Helena. Sua extrema educação e sutileza britânica, no entanto, terminou por adiar o romance. Minha querida amiga chegou mesmo a duvidar de seu real interesse nela, embora não raras vezes nos levasse e buscasse, em seu próprio carro, aos nossos inúmeros passeios de descoberta pela agitada noite londrina.
Deixamos as malas em casa e fomos conhecer o Tate Museum, o mais novo empreendimento da famosa galeria inglesa. Estranhamente, não fazia o frio cortante do inverno em Paris, embora os termômetros medissem menos um grau.
Entramos no museu e por algumas horas nos deslumbramos com uma incrível coleção de obras do modernismo europeu. Parecíamos outra vez meninas, descobrindo os encantos desse sempre renovado vigor cultural do Velho Mundo. Não faltaram também boas risadas, quando chegamos ao setor destinado à arte contemporânea e nos deparamos com algumas, a princípio, incompreensíveis – e premiadas – instalações, como a obra Sunflower Seeds, uma impressionante montanha de centenas de milhares de sementes de girassol bem no meio do vão de uma sala.
A grandeza da obra, na verdade, está no fato de que cada uma daquelas minúsculas sementes serem feitas de porcelana e terem sido pintadas à mão, individualmente, por mil e seiscentos artesãos chineses. Sunflower Seeds é uma instalação criada por Ai Wei Wei, um dos mais importantes artistas da atualidade, famoso pelo enfrentamento do fechado Governo da China em defesa da democracia e dos direitos humanos.
Quando saímos do museu, a velha Londres nos brindou com um espetáculo da mais pura beleza. Caía uma tempestade de neve que levava adultos e crianças a acorrerem ao calçadão em frente ao Rio Tamisa e brincarem como crianças de jogar bolas de neve uns nos outros. É claro que imediatamente entramos na brincadeira e quando por fim entramos numa pizzaria alguns metros depois do museu, estávamos literalmente encharcadas de neve e exaustas de tanto correr e rir.
Depois voltamos para casa onde Ron, o filho de Mr. Alexander, que se tornara marido de Silvia Helena, nos esperava com um belo jantar e uma garrafa de um delicioso vinho tinto que nos esquentou o corpo e o coração. Sim, porque quando acabou nossa temporada em Londres, há 27 anos, eu voltei a Brasília para terminar o curso de jornalismo na UnB e Silvia seguiu para uma temporada em Paris. Foi quando Ron finalmente tomou uma atitude. Foi a Paris com uma dúzia de rosas e poucos meses depois estavam juntos, no mesmo velho casarão em que tínhamos morado por sete meses, na condição de inquilinas. Só que, dessa vez, Silvia e Ron eram marido e mulher. Mas isso já é uma história para outra crônica. Quem viver lerá.
terça-feira, 13 de março de 2012
Sobre o novo Velho Mundo
II
Paris é uma festa é o título de um livro memorável, escrito por Ernest Hemingway, nos anos 60, mas que retrata a Paris da década de 20 do século passado, quando artistas do mundo inteiro – entre eles, o próprio Hemingway - buscavam inspiração nos museus, cafés e bulevares da cidade-luz. Hoje, os tempos são outros – penso ao lembrar os rostos sombrios, a impaciência e a estranha pressa que parece mover os passos do francês contemporâneo.
Ainda assim, aos olhos do mundo, Paris continua sendo uma festa, e por isso todos os dias, suas ruas são tomadas por milhares de turistas que – como eu – se dispõem a enfrentar o frio e o vento cortante do inverno, só para desfrutar da beleza e dos séculos de história inscritos em suas suntuosas construções.
O Palais de Versailles, a Pirâmide do Louvre, o Musée d’Orsay, um passeio pelas ruas do Marais, a visão da Tour Eiffel iluminada, andar até não sentir mais os pés e depois deliciar-se com um bom Bordeaux e a sugestão do chef de um dos bistrôs espalhados às centenas pelos 20 arrondissements da cidade.
A culinária francesa é tão rica e variada que é quase impossível conhecê-la, em sua totalidade. Para mim foi um presente, uma benção mesmo, poder sair com meus filhos, dia após dia, a experimentar seus tantos sabores, suas iguarias, seu mix de tradição e invenção como só é possível encontrar em Paris.
Num desses dias abençoados, fui visitar a Chapelle de La Médaille Miraculeuse, onde, no século XIX, Nossa Senhora se revelou a Catherine Labouré, e pediu-lhe para cunhar uma medalha com a inscrição – Ó Maria concebida sem pecados, rogai por nós que recorremos a vós. Ao uso dessa medalha são atribuídas até hoje centenas de milhares de curas, ao redor do mundo.
Cheguei à capela no exato momento em que começava uma missa. Assisti ao rito, completamente tomada pela emoção, embalada pela voz de um anjo que, disfarçado de irmã da caridade, entoava cânticos de louvor, durante toda a celebração. E foi então que testemunhei um milagre, mas isso já é história para outra crônica. Quem viver lerá.
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