domingo, 16 de agosto de 2015
DIÁRIO DE VIAGEM
Nua e crua, a poesia devora o pé de moleque. E aos visitantes, as batatas. (Visita à exposição CRU, no CCBB, a convite da Tátika Comunicação).
sábado, 4 de julho de 2015
DIÁRIO DE VIAGEM
Com a boca
escancarada
cheia de dentes
Ando brigada
Com o poema,
Acho-o bizarro
Chato mesmo,
Até banal,
Sons abstratos
Vomitando signos
– (in)significantes
Significados –
Inventados,
Reinventados,
Abjetos objetos
Semiológicos
De Saussure.
Ando achando
Tudo isso um saco,
Como disseram Raul
E Paulo sobre
O cotidiano.
O poema é ouro
De tolo – penso,
Sentada no trono
Dos apontamentos,
Despejados em
Folhas e teclados,
Para depois,
Repetir:
Consegui,
E daí?
É só mais
Um verso tosco,
É só mais
Um roto traço
Humano,
ridículo,
limitado,
Enquanto
Jorra a dor
Dentro de mim,
E cercas
Embandeiradas
Ainda cobram
Caro o preço
De existir.
(Inspirado na canção Ouro de Tolo, de Raul
Seixas e Paulo Coelho)
sábado, 16 de maio de 2015
DIÁRIO DE VIAGEM
Ensaio poético
sobre
as unhas
de
Nicolas Behr
Nicolas, hoje
amanheci
roendo as unhas.
Eu, que nunca
as tive.
“Que gosto
tem o
gosto da
angústia”?
A torre de TV
é um dedo
em riste
apontando
o céu.
Quem roeu
as unhas
das mãos postas
da Catedral
de Brasília?
“Restauramos
e recuperamos
unhas
não consertamos
poemas”.
Os dedos
das torres
gêmeas
do Congresso
Nacional
já nasceram
podados.
Suas
unhas-garras
crescem
invertidas,
para dentro.
Quando
perfurarem
o núcleo
do solo vermelho
do cerrado,
haverá uma
grande explosão.
“Por que sempre
esse arrancar
pedaços?”.
Por que dói
até sangrar?
Deixa sangrar,
Nicolas,
unhas e sonhos
são
irremediáveis.
Quanto mais
roídos, podados,
amordaçados,
tanto mais
resistem
e outra vez
rasgam a couraça
e crescem.
“A vida medíocre
escreve
os melhores
poemas”.
Será?
Hoje amanheci
triste, Nicolas.
Joga outra vez
teus dedos
esfolados
na cara
do poema
de fraque.
“Fecha a mão
em punho
como quem quer
esmurrar o
vazio”.
Um dia,
a lava
escaldante
do poema
estenderá
sua língua
sobre os
palácios da
esplanada.
Brasília arderá
em chamas
e de seu
solo então
jorrarão leite
e mel.
“Todas as
revoluções
fracassaram
eu e meu
dramazinho
pequeno-burguês
roê-lo
para que fique
menor ainda”.
Nicolas,
posso roer
tuas unhas?
(Os versos em
aspas foram transcritos de poemas do livro Eu Tenho Unhas, de Nicolas Behr, com
ilustração de Luda Lima, Editora Roedora, 2015)
domingo, 10 de maio de 2015
DIÁRIO DE VIAGEM
Sobre mamãe
Mamãe, deixa
eu deitar
a cabeça
no teu colo
e tudo passa:
a dor, o medo,
o cansaço,
e a febre,
e as más lembranças.
Mamãe, deixa
eu voltar
a ser criança
e adormecer
em teus braços.
e quando
o dia raiar,
abre outra vez
a varanda e deixa
a luz penetrar
no meu quarto
em frente ao mar.
Mamãe, foram
tão felizes os dias
de minha infância
que ainda hoje
os carrego no peito
a iluminar as noites
da travessia.
E quando
a vida parece
perder o brilho,
a magia,
poder estar
em teus braços,
poder retornar
ao porto
de tua doce
alegria,
dá-me a rota
da esperança
na manhã
de um novo dia.
(do livro Verbo e Carne, Editora 7Letras, Rio de Janeiro,
2014)
segunda-feira, 27 de abril de 2015
DIÁRIO DE VIAGEM
Nós que amamos Beto
Era um menino lindo, como de resto éramos todos nós,
na Brasília dos Anos 80, no século, e mesmo no milênio, passados. Beto para
todos, não só para os íntimos.
Ele se distinguia dos outros por aquele olhar sempre
para o alto, sempre para o céu, o imenso céu de Brasília, visto do alto do Planalto
Central, tão perto, tão íntimo, sem uma nuvem, livre de arranha-céus.
No seu velório, entre tantos rostos amigos, voltei no
tempo, guiada por uma estranha alegria de, por algum tempo, com Beto ter
convivido. Nós, os seus amigos, reconhecemo-nos naquele encontro, menos triste
e mais melancólico, vindos de um tempo em que os sonhos fluíam, a nos unir como
a uma tribo inocente a quem lhe deu o destino um mundo novo, pronto a ser
construído.
Confesso que me preparei especialmente para a
despedida desse amigo que, mesmo que a vida e o tempo nos tenham afastado,
permaneceu guardado em meu peito como um tesouro. Como são, enfim, tesouros os
tempos felizes que se guarda a sete chaves, qual um escudo, uma proteção às
intempéries dos tempos vindouros.
Tomei um banho doce e morno, pintei o rosto, vesti meu
melhor vestido e fui ao velório para despedir-me com dignidade de um velho e
bom amigo.
Serão caminhos luminosos, Beto, eterno menino. Como
aqui, nas terras altas de Brasília, foi o teu. Vai com Deus.
domingo, 26 de abril de 2015
DIÁRIO DE VIAGEM
Dia SETE de MAIO, a partir das 19 HORAS, tem POESIA bacana lá no MARTINICA Café da 303 Norte. Espero você no LANÇAMENTO de meu novo livro VERBO E CARNE, para uma noite de autógrafos, encontro de amigos e muita POESIA como RED AND BLUE.
Red and blue
O milagre do amor,
a beleza de amar
e ser amado.
O sexo sonhado, esperado, desejado,
como o sagrado alimento,
depois de um longo jejum.
A linguagem do amor,
a dança dos corpos,
a busca, a urgência, a tensão.
E depois, o gozo
e depois, o êxtase
e depois, a exaustão.
E então, o sono,
o acordar sereno,
o sentir-se pleno.
Olhar o outro, ao lado,
entregue, lindo, nu
e querer parar o tempo
só para admirá-lo,
só para mais retê-lo
na manhã de um dia azul.
Red and blue
O milagre do amor,
a beleza de amar
e ser amado.
O sexo sonhado, esperado, desejado,
como o sagrado alimento,
depois de um longo jejum.
A linguagem do amor,
a dança dos corpos,
a busca, a urgência, a tensão.
E depois, o gozo
e depois, o êxtase
e depois, a exaustão.
E então, o sono,
o acordar sereno,
o sentir-se pleno.
Olhar o outro, ao lado,
entregue, lindo, nu
e querer parar o tempo
só para admirá-lo,
só para mais retê-lo
na manhã de um dia azul.
sábado, 4 de abril de 2015
DIÁRIO DE VIAGEM
Uma Páscoa cheia de luz para você.
Sobre ser discípulo
No alto da cruz
apaga-se a vela
e então o vento
ruge e, escura,
a luz se faz e já são três
os dias que se passam em agonia
e em longas noites de vigília e espera.
Trancam o morto, lacram a sepultura.
E ao terceiro dia,
o anjo anuncia:
Ele não está aqui,
ressuscitou como
havia dito. E então
Jesus diz aos discípulos,
conforme as Escrituras:
Ide pelo mundo inteiro e
anunciai a boa nova a toda criatura.
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