sexta-feira, 21 de dezembro de 2018



Beira-mar

A ideia que tenho
De felicidade é a visão
Do oceano azul,
Em dias de verão.

Gosto do gosto
De sal na pele
Curtida pelo sol,
Quando tudo o mais
Está em paz.

Gosto do ardor
Da alma bronzeada,
Do desejo aceso,
Recendendo a alga.

Meus olhos mareados
Tomam a forma e o fulgor
Da água furtacor.

Meus lábios bebem mar
E o tempo se dissolve
No corpo das ondas
Quebrando, na preamar.

Na praia, vivo o tempo
Das marés em movimento;
Espumas do pensamento.

Na maré seca, caminho
De manhãzinha, molhando
Os pés nas águas rasas.

Na maré cheia, de tardezinha,
Contemplo nuvens, na enseada,
E o vôo baixo das andorinhas.

Meu calendário é lunar,
Nesses verões à beira-mar.

Quarto-minguante,
É tempo de chorar,
Lavar as mágoas
Nas ondas altas.

Quarto-crescente é queijo
Cortado, lua de bruxa,
Quando tudo exulta
E começa a se renovar.

Lua nova é quando
O círculo se completa,
E sua luz se expande
Sobre a noite do Planeta.

Meu corpo todo estremece,
Aguardando em êxtase
A Lua cheia vingar,

Dentro do mar, em certos
Ângulos, quando Deus,
Plenamente se expressa.

E então o ciclo recomeça:
Minguar, crescer, completar-se,
Brilhar; como dia e noite,
Vida e morte, dormir e acordar.

Toda dor traz em si a cura,
É o que minha alma depura
Dessas vivências de marés e luar.

Mesma a doença terminal,
A própria morte não é definitiva,
Como contou um amado irmão,
Pouco antes de sua partida.

Quarto minguante,
Tempo de despedidas,
O pensamento
Rasga o coração,

Mas o poema irrompe
No corpo da madrugada,
E recompõe em mim
O ciclo virtuoso da vida.

Amneres
Brasília, 20/12/2018

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