Beira-mar
A ideia que tenho
De felicidade é a visão
Do oceano azul,
Em dias de verão.
Gosto do gosto
De sal na pele
Curtida pelo sol,
Quando tudo o mais
Está em paz.
Gosto do ardor
Da alma bronzeada,
Do desejo aceso,
Recendendo a alga.
Meus olhos mareados
Tomam a forma e o fulgor
Da água furtacor.
Meus lábios bebem
mar
E o tempo se dissolve
No corpo das ondas
Quebrando, na preamar.
Na praia, vivo o
tempo
Das marés em movimento;
Espumas do pensamento.
Na maré seca,
caminho
De manhãzinha, molhando
Os pés nas águas rasas.
Na maré cheia, de
tardezinha,
Contemplo nuvens, na enseada,
E o vôo baixo das andorinhas.
Meu calendário é
lunar,
Nesses verões à beira-mar.
Quarto-minguante,
É tempo de chorar,
Lavar as mágoas
Nas ondas altas.
Quarto-crescente é
queijo
Cortado, lua de bruxa,
Quando tudo exulta
E começa a se renovar.
Lua nova é quando
O círculo se completa,
E sua luz se expande
Sobre a noite do Planeta.
Meu corpo todo
estremece,
Aguardando em êxtase
A Lua cheia vingar,
Dentro do mar, em
certos
Ângulos, quando Deus,
Plenamente se expressa.
E então o ciclo
recomeça:
Minguar, crescer, completar-se,
Brilhar; como dia e noite,
Vida e morte, dormir e acordar.
Toda dor traz em si
a cura,
É o que minha alma depura
Dessas vivências de marés e luar.
Mesma a doença
terminal,
A própria morte não é definitiva,
Como contou um amado irmão,
Pouco antes de sua partida.
Quarto
minguante,
Tempo de despedidas,
O pensamento
Rasga o coração,
Mas o poema irrompe
No corpo da madrugada,
E recompõe em mim
O ciclo virtuoso da vida.
Amneres
Brasília, 20/12/2018