terça-feira, 22 de novembro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Sobre o gosto de escrever-te

Viro o tapete para que fique exatamente em frente ao box do chuveiro. Voltar pra casa tem seus rituais. Um dos que mais gosto é exatamente esse – o de repor os objetos pessoais cada um de seu jeito. E um dia, percebendo isso, simplesmente mudar tudo de lugar. Só pra começar de novo, só pra assistir à vida criar-se e se renovar.
A aventura de escrever começa a acontecer, de fato, quando a gente percebe isso. Tudo passa e tudo se renova, pois que a existência é um ciclo – pulsa em mim o sentimento. E logo se dilui, no instante mesmo em que me chamam à mesa de jantar.
Lá fora, desaba um temporal que lava até pensamento – penso, com o peito enxarcado pelo domingo cinzento. Mês de novembro em Brasília é assim mesmo, chove quase sem parar. Quer saber, deixa prá lá. É só pra paralisar o instante e te ver sonhar. Pra teu entretenimento.

domingo, 20 de novembro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

(des)afogamento

Um dia
Quis fundir
O oco de
Minha alma
Ao corpo
Da alma
Do outro
Mas sua alma
Sua mente
Seu corpo
Formavam
Um único
Solitário
Imensurável
Poço
Sem fundo
De onde
Amiúde
Eu busco
Emergir.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Sim, o amor

Um dia,
vi sua imagem
dissolver-se,
grão a grão,
qual catedral de areia
e pude enfim,
pela primeira vez,
viver a vã realidade.
Foi desde então
que aprendi a arte
de tirar leite de pedra,
e recompor-lhe a imagem,
grão a grão.

sábado, 15 de outubro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Não amor


Compulsão,
insanidade,
vício,
doença incurável,
perigo iminente
como equilibrar-se
face o precipício,
permanentemente
e então deixar-se
cair... cair...
no escuro infinito,
no abismo insondável,
no espaço mítico
sem gravidade,
poço sem fundo,
sem volta,
sem norte,
sem fim,
como se a vida
só se explicasse
no corpo
adverso do
outro,
na gêmea metade,
na face abjeta
do amor
revelada
enfim.

sábado, 17 de setembro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Por ti, Shakespeare,
beberei veneno


Ando numa viagem
de silêncio e imagem,
um universo paralelo,
anterior às palavras,
como uma casa
pintada de amarelo
a perder o olhar
de quem por ela
passa.
Ando num universo
de príncipes e de fadas,
em castelos
de névoa e de luz,
ando e carrego
minha cruz.
Ando por labirintos
e tanto mais me perco
mais te sinto próximo
de mim, Romeu.
Eu, tua sempre
Julieta, adeus.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM


Interseção

Entre viagens,
No intervalo entre as partidas,
Na ausência depois das chegadas,
Nos fantasmas de outras vidas,
Coisas que vi na jornada,
Tudo forma essa camada
De argamassa de mim.
Sonho ou estou acordada?
- Penso e o instante enfim passa
Embalado pela brisa
Fresca vinda do jardim.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Sobre iluminar-se

Sopro ao teu ouvido um verso de amor.
Sopro-o pra comemorar a vida,
Essa chama insensata, desmedida,
Bela como só o amor a ela se compara

Em fala, em luz, em cor. Sopro-o
E o azul e verde da janela
Se mistura ao vento e me afaga a pele
Nua debruçada sobre o tempo,

A escrever-te. Sopro-o como sopra
O vento a eriçar-te os pelos, só
Pra provocar-te um riso absorto,

Um doce desvelo. Sopro-o pra acordar-te
e para mantê-lo - ardente, escarlate -
A iluminar-te o caminho inteiro.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM


Friendship and the atlantic rim

Ela continua a mesma - risonha, generosa, alegre. Recebeu-me no Aeroporto de Miami com a mesma alegria de há vinte anos, quando estudamos juntas na International House, em Londres. Aquela era uma das dezenas de escolas da capital inglesa que recebiam gente de todo o mundo, em busca do sonho de dominar a língua mais falada do planeta, o inglês. Talvez esse seja o idioma mais fácil de ser apreendido pela maioria das pessoas, uma espécie de Esperanto dos tempos contemporâneos, cuja simplicidade de construção permite que gente de todo o mundo possa estabelecer uma comunicação imediata.
Levou-me diretamente à sua casa, um amplo apartamento à beira da praia de Holywood Beach, um paraíso de águas tão mornas e tão plácidas como eu só havia visto até então no Cabo Branco, meu paraíso particular em João Pessoa, na Paraíba. A primeira coisa que fizemos foi deixar as malas e descer para a praia onde experimentei a gostosa sensação de estar em casa, tamanha a semelhança entre aquele mar e o mar de minha infância. Toda a dor pode ser curada no mar, foi a primeira coisa em que pensei, ao mergulhar naquelas águas mansas.

                                                       Hollwood Beach - Flórida

A gente só entende o que é essa região da Flórida quando percorre sua geografia peculiar, não só seus inúmeros recortes em meio às águas do Atlântico, mas também sua geografia humana, uma massa de gente que vem principalmente de Cuba e de outros países das Américas Central e do Sul em busca do sonho de aqui construir uma nova vida. Liberdade e prosperidade - eis o binômio que move o sonho de muitos daqueles que emigram para a rica nação dos Estados Unidos da América.
O primeiro passeio que fiz, a convite de minha amiga e de seu marido, foi um cruzeiro pela Intracoast, no trecho que liga Hollywood Beach a Fort Lauderdale, um dos mais tradicionais condados da Flórida e onde vive ou tem casa de veraneio um pedaço da vasta classe abastada norte-americana. São os chamados snowbirds, como o senso comum costuma se referir à gente rica e branca do norte do país que, depois dos filhos criados, vão para ali para fugir da rigidez do clima frio de seus estados de origem.
A Intracoast é um canal marítimo a poucos metros do mar aberto que corta toda a região, de South Beach a Fort Lauderdale. Entre o canal e o mar, a Ocean Drive, uma avenida larga e iluminada, de onde se pode assistir aos inúmeros barcos, veleiros, lanchas e iates que fazem a alegria dos moradores e visitantes da cidade. No litoral norte, predomina o inglês, mas no sul, o domínio absoluto é do espanhol, e se a gente fecha os olhos, pensa que se enganou de país e foi parar numa das pequenas nações latino-americanas que formam o Caribe.
No dia em que fomos a South Beach, era um domingo, e uma gente bronzeada e colorida dava o tom de festa ao verão dos trópicos. Ali, a praia é bem mais larga que em Hollywood Beach e os bares e restaurantes da orla formam um burburinho onde predomina a música caribenha, especialmente a de Cuba. Ainda hoje, Miami é o principal refúgio dos cubanos que se aventuram pelos mares para fugir do socialismo conduzido com mão de ferro, há mais de 50 anos, por Fidel Castro. Nesse ano, o velho comandante finalmente passou o bastão ao seu irmão Raul Castro, que tem dado os primeiros sinais de mudanças no fechado regime da Ilha.

                                                             South Beach - Miami          

Foi para fugir de um sistema de governo assim que um dia, no finalzinho da década de 70, minha amiga, sua mãe e sua irmã ainda menor de idade, fugiram para a Áustria e de lá para a Alemanha, onde por causa de um avô de origem germânica, obtiveram abrigo e posteriormente a cidadania alemã. Costumo dizer que a alma de Bozena é mais brasileira que a de muitos dos meus compatriotas. Ela sabe bem disso e até já morou por algum tempo no Brasil, mas foi na tórrida Flórida que encontrou as condições de que precisava para finalmente se estabelecer.
Este e o melhor lugar do mundo para se viver, disse-me a polonesa e – poucos dias depois – repetiu-me a frase um taxista israelense com filosóficos olhos cinzentos, depois de me confessar ter escolhido Miami para viver, apos ter morado em quase todos os lugares do planeta. Um típico judeu errante que encontrou aqui o seu lugar ao sol, não pude evitar o jargão.
Também uma velha amiga do Brasil, conseguiu ganhar aqui o seu quinhão, pensei, nostálgica, ao me lembrar de uma conterrânea que há dez anos, mudou-se de mala e cuia com marido e filhos para fugir da falência iminente e recomeçar a vida no mais latino dos estados norte-americanos. No dia em que nos encontramos, pude comemorar com ela a cidadania recém conquistada por seu filho, que dali a vinte e quatro horas prestaria juramento à bandeira ianque e passaria a fazer parte do seleto clube de american citizens que até hoje impõem seu way of life a diversas nações do planeta.
Na véspera de vir embora, fui ao Miami Art Museum e pude ver ali uma inusitada coleção de quadros e instalações de artistas que revelam uma parte da história recente da Flórida, no que ela tem de mais peculiar: sua formação humana, intercontinental, mestiça. Esse é o ponto de vista da curadoria da primeira instalação da coleção permanente do museu.
Sob o título BETWEEN HERE AND THERE: Modern and Contemporary Art from the Permanent Collection, aberta ao público em 2010, a mostra foca exatamente as culturas do chamado Atlantic Rim, englobando as nações que formam o litoral atlântico das Américas, da África Ocidental e da Europa Ocidental. É dessas nações que se origina a grande maioria dos habitantes de Miami.
                                    

             Miami Art Museum - Miami Downtown

Se a gente observar o mapa dos Estados Unidos, descobre que a Flórida é como um dedo de continente avançando, mar adentro em direção ao Caribe. Houve uma época, em eras remotas da formação do planeta, em que toda a América era uma só. Houve uma época em que as costas da América eram acopladas às costas da África. E houve uma época, bem mais recente, em que a descoberta do Novo Mundo pelas nações européias transformou radicalmente a geopolítica da terra.
Da rota dos grandes descobrimentos nasceria, mais tarde, o conceito de Atlantic Rim, um novo Mundo Atlântico, só comparável ao velho Mundo Mediterrâneo, como o francês Fernand Braudel nomeou as relações comerciais, geopolíticas e culturais, desenvolvidas desde a antiguidade clássica entre as nações à borda do Mar Mediterrâneo.
“From the mountains/To the prairies/To the oceans/white with foam, God bless America...”, cantarolo de dentro do avião o hino de amor a sua terra, escrito por Irving Berlin em 1918 e, de lá para cá, gravado e regravado por muitas das maiores estrelas do cancioneiro norte-americano. God bless Bozena por sua doce acolhida, God bless a Flórida pela beleza e inspiração que ao meu coração trouxeram o mar, a luz e as várias cores de sua gente alegre e colorida – escrevo, e o piloto anuncia o pouso. São 20 horas, quando toco os pés mais uma vez no solo frio e seco do Aeroporto Internacional de Brasília.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

O mar de minha aldeia

Com os olhos na lua cheia bem em frente à varanda, penso na alegria de Sarayu, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, descrita no livro A Cabana, de William P. Young. Li a história de um fôlego, de um dia para o outro, nas noites e nos intervalos do dia em que papai e mamãe cochilavam.
Na idade em que eles se encontram, um sono leve e constante os acompanha durante todo o dia, como os recém nascidos, penso e me enterneço. Poder niná-los, estar com eles, voltar para casa sempre que o calo apertar, isso é um privilégio para poucos. E eu sou uma entre esses felizardos.
Choveu torrencialmente, nessa semana em João Pessoa. A água do mar muda de cor, fica marrom, nesse tempo enxarcado e quando abre uma réstia de sol, adoro vê-lo eriçado, como se sentisse frio com o vento agitado assanhando-lhe as ondas.
O mar da Praia do Cabo Branco, na Capital da Paraíba, não é qualquer mar, é o meu mar, meu pedaço particular de paraíso. Como o rio da aldeia do poeta Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. A gente emigra de um lugar e carrega para sempre dentro da gente essa paisagem particular.
Depois de 32 anos de Brasília, ainda hoje o Cabo Branco em mim habita, escrevo, de volta à cidade para um pequeno pouso. Daqui a três dias, vou outra vez levantar vôo, comemoro, alegre, de dentro da rede de balanço onde repouso e assisto à lua cheia do planalto o meu peito e o infinito iluminar.

DIÁRIO DE VIAGEM

Florescer e queimar

Saio do prédio pela Chapelaria. Subo a rampa do Congresso e contorno o largo gramado da Esplanada dos Ministérios. Contempo a paisagem pela janela do táxi. Faz uma tarde linda. Fria e seca nesse mês de julho. A seca chegou com toda sua dureza e exuberância. O gramado castigado pelo frio e pelo sol já prenuncia a hora das queimadas, penso e me despeço dessas terras altas, em direção ao mar.
Estou de férias. Vinte e cinco longos e esplendorosos dias da pura luz do verão dos trópicos prometem secar de vez as últimas águas em minha visão. Levanto os olhos do caderno em que escrevo e me vejo frente a frente com a escultura dos Dois Candangos, na praça de concreto bem em frente ao Palácio do Planalto.
Depois, pela L-4, sigo em direção ao JK. No caminho, quase em frente ao Balão do Aeroporto, deparo-me com o primeiro pedaço de terra queimado pelo fogo. É o primeiro foco que vejo de uma série de incêndios que costumam castigar o Cerrado, nessa estação.
Mas, paradoxalmente, é também a época das floradas, quando Bouganvilles, flamboyands, ipês e toda sorte de flor exótica colorem o corpo do Cerrado. Como a nos dizer quão bela é a vida, penso. Mesmo nas terras áridas do Planalto, mesmo no solo roto do meu coração.
Dou uma pausa nos pensamentos para assistir ao avião levantar vôo. Estamos na cabeceira da pista, só aguardando as instruções da Torre de Comando. Um minuto e estamos em pleno ar. Pela janela, vejo a Ponte Velha e a Ponte JK e entre uma e outra o corpo prateado do Lago Paranoá.
Depois, toda a cidade vai ficando mais e mais distante. O coração do homem, assim como o corpo dessa aeronave, está predestinado ao vôo. E mesmo quando acontece de haver um pouso forçado, nosso destino está inscrito no DNA: reparar os danos e outra vez voar. 

sábado, 2 de julho de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

O velho, o mar e um avião

Durante o voo, milhas e milhas acima do chão, faço um intervalo na leitura e penso em como é bom viajar, estar em trânsito entre um destino e outro. Nas páginas do livro, o velho Santiago luta corajosamente sua última batalha e se pergunta se seu adversário sabe o que está fazendo, ao conduzi-lo cegamente mar a dentro ou se está tão desesperado quanto ele, cuja existência é um sopro que subitamente pode cessar.
A metáfora do mar exerce um estranho fascínio sobre minha alma. Será que um dia voltarei ao seu abrigo? Será ele, o profundo oceano, com seu cheiro, suas cores, seus rumores, quem embalará a paz de meu último suspiro? Enquanto isso, vivo minha saga particular entre um lugar e outro, entre uma dor e outra, entre um amor e outro.
Deixei meu pai à beira-mar da Praia do Cabo Branco com um olhar distante de quem vai partir. No fundo, todos nós sabemos que está próxima a hora, mas ninguém quer deixá-lo ir. Especialmente, minha mãe teme o porvir, teme não saber como prosseguir para completar sua própria trajetória. Após 57 anos, a vida de um casal como que se mistura, penso do alto de um avião em pleno voo. Já é noite em meu coração, umbroso pela ideia de ruir.
Como Santiago, meu velho pai luta com as forças que lhe restam essa que talvez seja sua última batalha. E como o velho pescador de Hemingway*, recolher-se talvez não signifique uma derrota, mas o reconhecimento de afinal ser chegada a hora de se despedir. O prêmio da longevidade em uma mente lúcida só é concedido a poucos, penso e o pensamento traz alento ao que há de vir.
Como a brisa suave do mar de Havana embalava o sono de Santiago, também os ventos amenos do Atlântico assistam ao leito de meu pai, peço, em prece, ao Pai. E que nós – minha mãe, eu e meus irmãos – saibamos dele um dia despedir-se com a mesma coragem com que ele enfrenta a vida. A um só tempo longa e tão efêmera e tão breve, como breve é o pensamento que me escapa leve pelas páginas desse livro de viagem, durante o voo, milhas e milhas acima do chão...

DIÁRIO DE VIAGEM

 
Ver o sol se pôr
 
Rosa, lilás e cinza, o poema chama-me
quase a despedir-se na tarde a se dirimir.
- Olha-me, senhora, minha amiga antiga;
- despe-me com os olhos e então me devoras;
 
- Olha-me para que a noite caia sobre nossas
almas claras, uma noutra a se diluir. Olho-o
e sou tomada pela aura de uma hora entre
dia e noite onde luz e sombra fundem-se.
 
Olho-o e seu sopro outra vez me envolve;
olho-o e quase posso materializar sua fala;
olho-o e então colho-o mas eis que ele foge
 
Como foge a tarde. E então resta a noite
e o fundo silêncio, efêmeras curvas
do espaço-tempo entre mim e ti.
 

segunda-feira, 2 de maio de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Sobre indulgência

O irrevelado,
De profundis,
Assim é Deus,
E seus mistérios:
O corpo e o sangue de Cristo
No ato da comunhão,
A fala abissal do silêncio
Descerrando a névoa dos olhos,
O terceiro olho,
O que reza o coração.

Saio à varanda,
Aspiro o ar fresco
Da noite de maio
E quase posso tocar
O sopro ameno
De um todo harmônico.
Corro ao teclado
E escrevo:
O poema me vem assim,
Recendendo a orvalho,
Remido de excessos.

Colho-o como
A uma rosa
De um etéreo jardim.
Colho-o
E vos ofereço,
Em rubras palavras
Impronunciadas,
Exalando um doce
Cheiro de jarsmim.

domingo, 10 de abril de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Bilhete
de uma poetisa
de pileque


Olha só:
“Agora é tarde, Inês é morta.

Ser ou não ser, eis a questão.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo e sempre e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

Sonhar mais um sonho impossível,
lutar quando é fácil ceder,
vencer o inimigo invencível,
negar quando a regra é vender.

Sofrer a tortura implacável,
romper a incabível prisáo,
voar no limite improvável,
tocar o inacessível cháo.

Você e eu, eu e você,
Eu e você, você e eu,
Juntinhos.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo”.

Olha só:

Que me perdoem Antônio Ferreira,
Shakespeare, Drummond, Vinicius,
Camões, Chico Buarque, Joe Darion,
Tim Maia e Mitch Leigh,

Mas eu só estou bêbada
E como se diz,
O que digo aqui não se escreve.

Então é isso,
Tchau,
Fui.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Chico, a lua e a Ásia

Chorei, amigo, da primeira à última frase soprada por tua voz ao meu ouvido. Dita como dizes, a vida é pura arte. Dançaste no palco como um pássaro o faz no espaço livre. Ficaste leve, quase incorpóreo, tomada que estava tua alma pela perfeita simbiose entre ator e homem. A lua vem da Ásia, mas a estrela brilha aqui na Terra Brasilis, na performance irretocável de um grande ator. Salve, Chico Diaz.

                    * Texto escrito em homenagem ao ator brasileiro Chico Diaz, no monólogo A Lua vem da Ásia, baseado na obra de Campos de Carvalho.

terça-feira, 29 de março de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Cheers

Aaaaaaahhhhh...
O silêncio
parece gritar
ao meu encalço.

Algo quebrou
dentro de mim,
ainda posso ouvir
seus estilhaços.

O copo quebrou,
escorregou
de minhas mãos
por entre os dedos
e se partiu
em mil pedaços.

Guardei silêncio,
juntando
os cacos de fora
como se fossem
os de dentro.

Quando acordei,
havia sol
e ouvi o som
da voz dos pássaros.

Embriagada
pela luz
enfim, brindei:
- Ao novo tempo

E ao que se foi
e que me fez,
Pois dessa vida
só se leva
o aprendizado.

sábado, 19 de março de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Mergulho

Quando a sandália havaiana quebrou e levou junto com ela o amuleto, pensei: lá se foi o último elo, um elefantinho da sorte grudado à alça de vestir os dedos. Então, descalça, atravessei o asfalto e pisei a areia branca, ainda morna, da manhã de março. - Viver é isso: eterno fim, eterno recomeço, sussurrei ao vento, deixando o sal das lágrimas misturar-se ao sal daquelas águas. - Bendita seja a luz a colorir tanto esplendor, agradeci ao Criador. E mergulhei naquele mar, o corpo entregue às mansas ondas, a alma sonza, a flutuar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Marcapasso

Papai pôs um marcapasso e seu coração arfou, zumbiu, bombou, voltou a pulsar, cheio da pura energia da vida. - Doutor, põe um marcapasso no meu coraçãozinho, pedi, em silêncio, durante a vigília. Quando acordei, a luz do sol iluminava o leito e o quarto em derredor. Então saímos - eu e meu pai - alegres, invictos, em paz.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Engenho e mar

Sou viajante. Gosto de viajar pela paisagem plácida e translúcida da Praia do Cabo Branco, à beira-mar do manso Atlântico. Nessa paisagem vivi, até aos 18 anos, uma infância e adolescência absolutamente felizes, regada a queimadas, picolé de frutas, assustados(*) e pescarias ao luar. O verão – que nesses trópicos dura de setembro a fevereiro – era o senhor absoluto de nossas existências. Em dezembro, então, com a chegada do veraneio, tudo era luz e alegria.
Os veranistas vinham de várias partes do Nordeste e do interior da Paraíba, em sua maioria. E nossa casa – com sua grande quadra de jogos, iluminada por holofotes altíssimos - passava a ser a parada obrigatória de todos os amigos de nossa numerosa família de oito irmãos. Jogávamos vôlei, futebol, queimada e organizávamos concorridíssimos campeonatos de pingue-pongue e de gamão – jogo de origem britânica, cujo gosto herdáramos dos nossos avós maternos, diretamente do Engenho Tibiri, o primeiro engenho de açúcar da Paraíba, que já fora o Engenho del Rei, à época de Filipe II, rei de Espanha e Portugal.
Mamãe me disse que originalmente, quando foi comprado por meu bisavô, o engenho tinha três mil hectares e se estendia da atual cidade de Santa Rita a João Pessoa, a capital, que foi a terceira cidade do Brasil, fundada ainda no primeiro século da colonização, depois de Salvador e do Rio de Janeiro.
Segundo Horácio de Almeida, em sua História da Paraíba, “de todas as capitais brasileiras, sobretudo das que foram cabeças de capitania, a da Paraíba foi a terceira que nasceu cidade. A primeira foi a de Salvador, na Bahia, fundada por Tomé de Sousa, em 1549, próximo à Vila Velha, para sede do governo geral. A segunda, a do Rio de Janeiro, por ter sido conquistada pelo governo, à custa de sua fazenda, em 1565. A terceira, a de Nossa Senhora das Neves, na Paraíba, fundada em 1585. Todas as outras nasceram vilas e nesta categoria se conservaram durante todo o período colonial”.
Até hoje, lembro-me do cheiro acre do bagaço da cana saído dos imensos tonéis onde eu e meus primos adorávamos brincar de esconde-esconde. Era uma aventura entrarmos escondidos na velha construção e explorar suas cavernas úmidas. Mas à medida que saíamos da infância à adolescência, mais éramos atraídos pelo verão com suas praias azuis e pela visão de nossos corpos bronzeados quase prontos para o primeiro amor.
O primeiro amor foi meu primeiro rito de passagem. Hoje, mais de 30 anos depois, ouço de minha mãe, com toda a iluminação e sabedoria de seu grande espírito octogenário, que o coração não envelhece e nele permanecem os sonhos, em ciclos de nascimento e morte, a cada nova florada, a cada nova estação. E é exatamente assim que me sinto: hoje como antes, uma adolescente apaixonada pela vida e ainda pronta a conquistar o mundo, como um dia o fizeram os navegantes portugueses ao singrarem os mares em busca do novo mundo. Sou viajante...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Aeroporto

Sou viajante, penso ao entrar no táxi, de malas prontas, coisa recorrente nos últimos meses. Na saída, descubro que perdi meus óculos e dou um suspiro. Chega, chega de perdas, digo alto e faço um gesto de apelo ao Pai eterno. Depois, peço desculpas. Quanta arrogância, digo para mim mesma e a pena treme com o balanço do carro em movimento.
Aprendi que toda dor cessa. Não há mal que nunca acabe, nem bem que sempre dure, repito o dito popular, refletindo sobre quantas lições se pode tirar do censo comum. O fluxo do trânsito corta o fluxo do pensamento. Levanto o olhar e vejo o Lago Paranoá brilhando sob a Ponte do Bragueto. São nove horas da manhã e o Eixão resplandece verde e rosa.
Verde e Rosa são as cores da Mangueira, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro. Mas verde e rosa é também o Eixão Norte, sob o esplêndido céu azul de Brasília, onde o tempo é frio e seco e os ipês cor-de-rosa misturam-se ao verde musgo dos mangueirais. Que tempo gostoso, penso e esboço um ar de riso. Só mesmo um candango para gostar de uma estação onde a umidade do ar é menor que 20%.
Sigo pelo Eixão, agora o Sul, a caminho do Aeroporto. Daqui a algumas horas, estarei outra vez à beira-mar da Praia do Cabo Branco. Faz exatamente um ano que perdi e reencontrei o amor. Há exatamente um ano, estava do meio do furacão. Hoje não. Parece que a chuva cessou, parece que o peito secou como a paisagem desse Cerrado em movimento.
O táxi passa debaixo de um avião. Acompanho seu pouso até quase o chão e já não sinto a faca enfiada bem no centro do coração. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe, inverto o ditado e o carro estaciona bem em frente ao saguão de embarque do Aeroporto JK. É hora de partir, é tempo de recomeçar.
“Besame, besame mucho, como se fuera esta noche la ultima vez...”, cantarolo o tango do argentino Carlos Gardel, mas na versão mais bela e mais doce do baiano João Gilberto, imortalizada no CD Amoroso. Gosto desse movimento, desse ir e vir, desse alvoroço dos aeroportos. Na fila de embarque, troco um dedo de prosa com um velho amigo, depois sigo apressada e só relaxo quando me sento à cadeira nº 5 da aeronave, bem ao corredor. Logo em seguida, no entanto, troco de assento com um senhor, para deixar unida uma família composto por pai, mãe e filho.
Meu novo lugar é a cadeira à janela, na fileira nº 4. Olho pela vidraça e acompanho o movimento do pessoal que trabalha em terra, como dizem os comandantes ao prestarem informações durante os vôos. Daqui a pouco estarei em pleno ar, a alma em transe, a caminho de algum lugar. Estou em trânsito e de alguma forma, nesse momento da vida, este parece ser o meu lugar. Sou viajante...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

Efígie

O poema é o Jadim, por isso lhe ofereço flores de silêncio com seu doce hálito de jasmim. Salve o poeta Reynaldo Jardim - hão de cantar-lhe em coro os querubins.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

V – Amazônia

A pororoca com suas ondas, a exuberância do verde mar da floresta, as altitudes de suas copas, o encontro das águas, a vida úmida, amazônica. Vi tudo isso apenas uma vez e fiquei encantada. Foi em 1990. Fui à Amazônia curar uma dor de morte e então a vida renasceu em meu ventre. Perdera meu irmão caçula e fui à viagem, na verdade, para amparar uma irmã, ainda mais inconsolável, desde que tudo acontecera. E quando voltei, a exuberância daquela paisagem aliada à descoberta de que eu estava grávida havia operado o milagre: saí dali curada da dor e convicta de que o Brasil é realmente abençoado e de que nenhum brasileiro deveria deixar de conhecer esse monumental tesouro verde que ocupa quase 50 por cento do território nacional.
Morte e ressurreição, não é a primeira vez que vivo esse binômio de forma brutal e inesperada. É como entrar no olho do furacão, a gente perde o chão e por um tempo que parece interminável a sensação é a de um astronauta que perde a sua nave e fica condenado eternamente à escuridão do espaço sideral. Sentia-me assim, naquela ocasião, quando então a visão da grandiosidade da floresta amazônica veio em meu auxílio e fez o mundo todo iluminar-se.
Em um dos passeios feitos durante a viagem, eu e minha irmã quase nos perdemos, dentro da floresta. De repente, distraídas pela visão de um pássaro, de um macaco, da própria luz que penetrava sutil por entre as copas altíssimas das árvores, não vimos mais o grupo e só ouvimos baixinho, quase se apagando, a voz de nossa guia perdendo-se na distância. Corremos apressadamente em direção à voz, erramos algumas vezes a trilha, até que avistamos outra vez o grupo.
A selva é assim, um labirinto de trilhas e caminhos e sons de folhagens e cantos de aves e vozes de bichos. Um mundo viçoso, encantado e absolutamente misterioso ao nossos olhares urbanos. Lembro-me de que fizemos um percurso, de canoa, por igarapés tão finos que muitas vezes tínhamos de afastar as folhagens e galhos com as mãos para que não nos arranhassem os braços. Visitamos uma espécie de casa construída em cima de árvores de troncos muito largos, um restaurante-mirante destinado aos turistas. Quando voltamos às canoas, tomamos um delicioso banho no igarapé e experimentei a água mais doce em que já mergulhara.
Há uma imagem que ficou gravada para sempre em minha memória: a de quilômetros e quilômetros ininterruptos de floresta verde às margens de rios tão largos que era-nos impossível avistar-lhes a outra margem. Navegávamos na majestosa Bacia Amazônica, em direção ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões para formarem o Rio Amazonas, o maior do planeta. As águas não se misturam e suas cores – uma escura e outra clara - formam uma impressionante  linha divisória que se estende por seis quilômetros dentro do Amazonas.
A maior bacia hidrográfica do mundo, com seus espantosos sete milhões de quilômetros quadrados, envolve seis países: Brasil, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela e Bolívia, No entanto, mais da metade dela, exatamente 3,8 milhões de quilômetros quadrados, corre em território brasileiro e abrange sete  de nossos estados. É esse mundo aquático, grandioso, quase sobrenatural que abriga a Floresta amazônica, a maior reserva verde do planeta.
Segundo alerta-nos o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), cerca de 550 mil quilômetros quadrados da floresta amazônica brasileira já foram devastados, ou seja, 13,7% da mata. E pior, desse total, 200 mil quilômetros foram abandonados após terem se esgotados os recursos naturais. Trata-se de uma catástrofe ambiental de dimensões gigantescas. Uma séria ameaça às imensuráveis fauna e flora que compõem o ecossistema da floresta.
Mas mesmo hoje, onze anos e milhares de quilômetros quadrados desmatados depois de minha ida à Amazônia, a floresta resiste e ainda é possível desvendar-lhe a verve selvagem. A Amazônia é uma revelação, e como tantas outras, acontece em nosso espaço, na  nossa frente, sem que muitas vezes a percebamos. Por isso, eu canto em sua homenagem; e agradeço aos céus a oportunidade de, pelo menos uma vez até então, ter visto de perto, ter testemunhado, esse milagre da Criação.

* Alguns dados sobre a Amazônia, transcritos do site repórterterra.com.br sobre a Expedição do Greepeace na Amazônia

Apenas 1/5 das florestas nativas do planeta continuam intocadas. Dos remanescentes florestais, aproximadamente 1/3 está concentrado na Amazônia.

A área total de Floresta Amazônica (mais de 6 milhões km²) tem quase o tamanho da Austrália, é maior do que a Europa Ocidental e quase tão grande quanto os EUA.

A floresta está presente em 9 países: Bolívia, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Suriname, Guiana Francesa, Guiana e Brasil.

A Bacia Amazônica é o maior reservatório de água doce do planeta. Quase 1/5 de toda a água do globo flui através de seus rios.

O Rio Amazonas tem 6.868 km de extensão (a mesma distância que separa a cidade de Nova Iorque da capital alemã Berlim). O ponto mais profundo do Rio Amazonas chega a 120m, o que é suficiente para mergulhar a Estátua da Liberdade inteira (que tem 91,5 m de altura).

Em alguns rios, a diferença entre o nível da água na estação seca e durante a cheia é igual à altura de um edifício de 8 andares.

Existem mais espécies de plantas em apenas um hectare de floresta amazônica do que em todo o continente europeu. Mais de 200 espécies de árvores podem ser contadas em um único hectare e já foram identificadas 72 formigas diferentes vivendo em apenas uma árvore.

Nos rios que cortam a floresta, existem 30 vezes mais espécies de peixes do que em todos os cursos d'água da Europa.

Mais de 30 mil tipos de plantas já foram catalogados, mas suspeita-se que outros 20 mil permaneçam desconhecidos. A vitória-régia, cujo diâmetro chega a medir 2m, é a maior flor do mundo.

Uma espécie de macaco que pesa 130g tem quase o tamanho de uma escova de dentes. Alguns índios da floresta amazônica usam estes minúsculos macacos para catar piolhos em seu coro cabeludo.

domingo, 23 de janeiro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM



IV – Londres

A primeira vez que os ouvi foi no final da década de 80, em Londres - a capital mundial do Rock. Foi amor à primeira vista e quando voltei a Brasília, sete meses depois, trazia no coração a visão dos punks nos metrôs e ruas, o borrão do fog emprestando às noites um ar de ilusão, e as vozes roucas dos astros do rock, entre eles, os que mais amava: as bandas U2 e Dire Straits e a cantora nigeriana Sade.
“I have climbed the highest mountains/ I have run through the fields/ Only to be with you/ Only to be with you”, ouço o som sigularíssimo da voz do irlandês Bono, vocalista do U2, e vejo-me outra vez em Londres, subindo as longuíssimas escadarias do metrô e descendo em plena Oxford Street uma das avenidas mais movimentadas da cidade.
A vida efervescia, apesar do frio e da chuva fina, úmida e constante, que enxarcava a cidade. As tardes e noitinhas nos pubs e as noites nos porões de rock era do que eu mais gostava. E das aulas de inglês, onde em minha classe cada um dos mais de quinze alunos era de um país diferente. Não só em minha classe, mas em toda a escola misturavam-se europeus, africanos, árabes e latino-americanos e, por isso, tomar um café na hora do intervalo ou almoçar em seu pequeno restaurante era uma festa aos meus olhos e aos meus ouvidos, encantados pela diversidade dos rostos e sotaques.
Havia um árabe que soube por telefone que seu pai lhe escolhera uma noiva com quem se casaria assim que voltasse ao seu país. E havia um empresário do Japão que nos levou ao mais caro restaurante japonês de Londres e nos apresentou, um a um, os pratos mais famosos da milenar culinária de seu país. Foi a primeira vez que experimentei sashimi. E havia Bozena, a polonesa, de quem tornei-me amiga inseparável, e Kurt, o suiço alemão com quem namorei. Na época, eu o achava parecido com Rod Stewart, só que mais bonito, com seus cabelos cacheados e seus olhos azúis, muito azuis. Parecia um cantor de rock aos meus olhos inocentes, foi por isso que me encantei de pronto – penso e não contenho o riso.
Lá se vão mais de vinte anos, desde que tudo isso aconteceu, mas ainda hoje a capital inglesa provoca em mim essa sensação de alegria, de juventude, de fulgor.  “But I still haven't found/ What I'm looking for/ But I still haven't found/ What I'm looking for…”, canto com Bono o hino daquela década, gravado no álbum The Joshua Tree (1987): o trabalho mais premiado da história da banda. Londres foi um sonho bom, como tantos outros em que a vida em benção e em graça se traduz. Que venha o próximo sonho e que a fé me guie pelos caminhos de luz.

* Texto inspirado na canção I Still Haven't Found What I'm Looking For, da banda irlandesa U2 e que transcrevo abaixo:

I have climbed the highest mountains
I have run through the fields
Only to be with you
Only to be with you
I have run I have crawled
I have scaled these city walls
Only to be with you
But I still haven't found
What I'm looking for
But I still haven't found
What I'm looking for

I have kissed holy lips
Felt the healing in the fingertips
It burned like fire
This burning desire
I have spoke with the tongue of angels
I have held the hand of a devil
It was one empty night
I was cold as a stone
But I still haven't found
What I'm looking for
But I still haven't found
What I'm looking for
I believe when the Kingdom Comes
Then all the colors will bleed into one
But yes I'm still running.
You broke the bonds
You loosened the chains
You carried the cross
of my shame
of my shame
You know I believed it
But I still haven't found
What I'm looking for
But I still haven't found
What I'm looking for.

A primeira vez que os ouvi foi no final da década de 80, em Londres - a capital mundial do Rock.

sábado, 22 de janeiro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

III – Cemitério Inglês

Nos primeiros séculos, os ingleses enterraram seus mortos aqui, num pedaço de terra alta do novo mundo, debruçado sobre a Baía de Todos os Santos - penso, ao contemplar a beleza do verde mar de Salvador, daqui do alto da Ladeira da Barra.
Penso na chegada dos navegantes portugueses no longínquo ano de 1501 e no deslumbramento que lhes causou a visão dessa enseada. Era o dia 1º de novembro, Dia de Todos os Santos e por isso foi nomeada assim a Baía que daria nome à primeira cidade brasileira.
Segundo historiadores, conduziam a expedição - enviada por Portugal un ano após o descobrimento - o comandante Gaspar de Lemos e o cartógrafo e escritor italiano Américo Vespúcio, que mais tarde emprestaria seu nome a todo o continente.
Acordo do sonho do Descobrimento e volto às covas desses ingleses que, no século dezenove, com o episódio histórico da Abertura dos Portos, em 1808, também embarcaram na grande aventura de construção de um novo mundo em terras americanas.
Uns eram jovens, muito jovens, outros de meia idade, muitos dos quais vítimas de doenças tropicais. Passeio por seus túmulos e leio suas epígrafes. Segundo historiadores, a leva de ingleses incluía de caixeiros viajantes a engenheiros em busca de novas oportunidades, movidos pelo sonho de felicidade e de riqueza.
E o cemitério, fundado em 1811, veio servir de abrigo exatamente aos mortos dessas e de outras famílias não católicas, já que os católicos se enterravam dentro de suas igrejas. A historiadora inglesa Sabrina Gledhill, radicada em Salvador, afirma que há nesse local uma área ainda não descoberta onde estariam os corpos de marinheiros sepultados em massa.
Posso estar pisando em suas covas, nesse exato momento – penso, e sinto um sobressalto. Então faço uma prece por todas essas almas deitadas sob o sol, em berço esplêndido. Que descansem em paz – recito e agradeço ao Pai eterno a luz de um dia a mais.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

DIÁRIO DE VIAGEM

II - Salvador

Bálsamo, unguento, banguê, pomada pra sarar ferida do corpo e da alma, vick vaporub, axé. Você já parou para pensar em quem é você? Ile Aiyê, São Salvador, Bahia de São Salvador, meu Senhor do Bonfim, como você é bonito de se ver. (amanhã tem mais...)

DIÁRIO DE VIAGEM

Diário de Viagem

I - Brasília

Abri a farmacinha do armário e pensei: aqui, há remédio para tudo, tristeza, depressão, ressaca, alergia, histeria, febre alta, resfriado e dor de cabeça. Há remédio para a vida, disse bem alto e peguei um sonrisal. Just in case, justifiquei a receita efervescente, deitei na cama, exausta, depois de quase um mês de viagem, e simplesmente desmaiei. Estou em casa.